Em uma série de reportagens, Zero Hora esta mostrando o destino de 162 internos, que estiveram reunidos há 10 anos em uma das mais conturbadas casas da então Fundação Estadual do Bem-estar do Menor (Febem), hoje Fase. ZH revela o destino desse grupo de adolescentes cujos delitos os reuniram em 1º de janeiro de 2002 na Comunidade Socioeducativa (CSE).
A morte de um em cada quatro "combatentes" é o saldo da batalha pela sobrevivência nas ruas do Rio Grande do Sul de 162 adolescentes depois de passarem, em 2002, pela Comunidade Socioeducativa (CSE). Em um conflito bélico entre nações, os números já seriam dignos de um massacre.
Dos 48 mortos, 41 ( 25,3%) tiveram morte violenta. No Brasil, em 2010, entre a população jovem (15 a 24 anos), o percentual de morte violenta foi de 0,08%, segundo dados do IBGE.
A arma mais letal na guerra enfrentada pelos ex-internos foi o crack. A pedra foi o fio condutor para soterrar pelo menos 27 dos 48 mortos, arrastando para a mesma vala jovens que tentavam se regenerar com outros entregues ao crime, condenados a matar, roubar e furtar pelo resto de seus dias para sustentar o vício.
A maioria partiu cedo. Para 43 deles, a sentença de morte veio antes dos 25 anos. Uma pequena parte tombou em confrontos com a polícia ou durante ação criminosa, mas o maior número foi executado a tiros pelas mãos de desafetos, por causa de brigas, dívidas, delações, vinganças ou queimas de arquivo.
A reconstituição das vidas desses jovens revela a gênese da violência. As vítimas nasceram e morreram em ambiente hostil. Mais de 70% delas vieram ao mundo sob o estigma da adversidade. Fruto de relações conjugais conturbadas, só conheceram a mãe ou padeceram com as separações dos pais. E uma parcela significativa carrega um histórico de tragédias familiares. Cresceu chorando a perda de parentes próximos, também fulminados por mortes violentas.
Às famílias restou o pesado fardo da saudade, do sofrimento, de criar quase duas dezenas de órfãos e se resignar com a indiferença das autoridades. Dos assassinatos que exigiam investigação, em menos da metade os responsáveis foram identificados e presos.
Duas das mortes ilustram o quadro de desventura: Marcos Arruda, enterrado como indigente aos 20 anos, em 2004, sem que parentes jamais vissem o corpo. E Gilmar Machado de Souza Junior, 21 anos, que, segundo recado anônimo dado à mãe, foi esquartejado e jogado em um lixão. A família nunca fez registro na polícia.
Confira o que aconteceu com cada um destes 48 meninos:
Adriano Rodrigo Cardoso, 23
O filho da faxineira Rosângela de Jesus Cardoso começou a morrer quando estreou na Febem, em 2001, por furto. "Cada vez que o visitava, notava que meu menino estava virando homem", lembrou para ZH em 2009 a mãe de mais 11 filhos. Quando voltou para casa, passava o tempo escondendo-se da polícia. Em 29 de março de 2009, morreu ao bater de moto em um poste, em São Leopoldo, ao sair de um baile com a namorada.
Alex Sandro Vargas, 27
Experimentou maconha aos sete anos, quando já tinha fugido de casa, na Capital. Ingressou na Febem como criança ainda, aos 10 anos, como "menor exposto". Depois, como infrator, ficou na fundação até os 20 anos por furtos e assaltos. Em 2006, estrangulou um menino de sete anos. Para ZH, disse em 2009: "Tomo remédio contra as drogas. Ela só me trouxe prejuízo, fez eu roubar, matar". Morreu de broncopneumonia em 2011, enquanto cumpria pena.
Anderson Giequelin, 25
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