Pesquisadora do Laureate Institute for Brain Research, em Tusla, nos Estados Unidos, Florence Breslin integra o time de investigadores do estudo Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) – em português, "desenvolvimento cognitivo do cérebro adolescente".
Trata-se de ampla pesquisa, financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA, que avaliará, entre outros aspectos, o efeito da exposição às telas na saúde de 11,8 mil meninos e meninas ao longo da próxima década.
Dados preliminares obtidos por meio de ressonâncias magnéticas indicaram diferenças nos cérebros de algumas crianças que usam smartphones, tablets e videogames por mais de sete horas por dia. Por enquanto, Florence afirma que é cedo para qualquer conclusão definitiva sobre o que isso significa – há mais dúvidas do que certezas.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ela fala sobre as limitações da pesquisa e projeta seus objetivos para os próximos anos.
Os resultados iniciais da pesquisa indicaram mudanças nos cérebros de algumas crianças que usam smartphones, tablets e videogames de forma excessiva. Que conclusão podemos tirar? A exposição às telas é, de fato, um problema?
Não sabemos se as telas estão causando os resultados que vemos ou se esses problemas já existiam. Nosso estudo indica que aquelas crianças que usam mais as telas mostram alguma associação com pontuações de inteligência mais baixas. Mas também vimos que crianças com altas taxas de uso de videogames mostraram uma associação a maiores pontuações de inteligência. A história ainda não está clara. Diferentes tipos de atividades parecem ter associações diferentes e é muito provável que as mesmas atividades em crianças diferentes tenham resultados diferentes.
Quais são os próximos passos do estudo?
Nosso grupo continuará a estudar o tempo de tela na população do estudo ABCD, examinando mais de perto a conexão entre o tempo de tela e a saúde mental, particularmente o suicídio. O suicídio está aumentando entre os jovens e será importante conhecermos todos os fatores que contribuem para esse problema. Além disso, como o ABCD é um estudo de 10 anos, poderemos acompanhar as crianças ao longo do tempo e começar a olhar para outras questões, tais como: podemos discernir o que pode estar causando essas diferenças? Existem certas atividades que são melhores ou mais seguras do que outras? Existem crianças específicas para as quais o tempo de tela pode ser mais prejudicial, como, por exemplo, crianças com psicopatologias subjacentes?
Nosso estudo indica que aquelas crianças que usam mais as telas mostram alguma associação com pontuações de inteligência mais baixas. Mas também vimos que crianças com altas taxas de uso de videogames mostraram uma associação a maiores pontuações de inteligência. A história ainda não está clara.
FLORENCE BRESLIN
Pesquisadora do Laureate Institute for Brain Research
Os pais devem se preocupar?
A sociedade está vivenciando um experimento em andamento e, apesar de estarmos pesquisando, não saberemos as respostas para muitas perguntas por algum tempo. A tecnologia está se desenvolvendo e mudando mais rápido do que podemos estudá-la. Como em qualquer coisa, sempre deve haver preocupação se uma atividade (seja a exposição a telas, a drogas ou exercícios demais) começar a impedir a vida equilibrada do seu filho. Por exemplo: as crianças precisam de bastante sono, atividade física e tempo para ler e, se as telas começarem a afetar sua capacidade de fazer essas coisas, isso não é bom. Além disso, a partir de nossos dados, vemos correlações entre mais tempo de exibição e crianças externalizando comportamentos fortes, incluindo agressividade e quebra de regras. Mais uma vez, não podemos tirar conclusões sobre o que está causando isso.
Na dúvida, é melhor reduzir o tempo de exposição dos filhos às telas? Existe um número seguro de horas?
A Academia Americana de Pediatria (AAP) tem recomendações e nós apoiamos as suas recomendações. Em nossa pesquisa, vemos diferenças com base no tipo de atividade de tela das crianças, o que torna ainda mais difíceis essas recomendações. Esperamos continuar nossa pesquisa para que possamos responder à pergunta sobre quais atividades são melhores ou mais seguras para crianças em diferentes estágios, mas ainda não temos isso. Eu diria que, além das recomendações da AAP, se as crianças estão apresentando problemas de comportamento associados ao uso da tela ou à quantidade de sono ou outras atividades, a redução é uma boa decisão.