Foi em 2016 que o autônomo e estudante de História Carlos (nome fictício), 41 anos, tomou uma decisão ao lado do marido, com quem é casado no civil: após o relacionamento de 14 anos esfriar um pouco, os dois optaram por abrir a relação. Juntos, poderiam ficar com parceiros eventuais. Eles se relacionam, na média, com três homens ao mês.
A mudança levou Carlos a entrar, em agosto do ano passado, no Combina, uma pesquisa desenvolvida em várias cidades do Brasil, incluindo Porto Alegre, que oferecia a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) a grupos vulneráveis. Os efeitos colaterais para ele foram poucos – apenas náuseas. Desde que usa o medicamento, ele não aumentou o número de relações nem abandonou a camisinha. Agora, se sente mais protegido.
– Sou de uma geração em que a aids matava, vi isso na minha adolescência. Antes do Truvada, eu via risco mesmo usando camisinha, ficava procurando sintomas (de infecção por HIV). Agora, estou livre do medo, não me sinto mais culpado. E ainda faço os exames a cada três meses, foi assim que descobri que estou com nível acima de açúcar no sangue e que precisava tomar vacina para hepatite – conta.
Outro usuário do método, desde setembro, é o professor universitário Rodrigo (nome fictício), 50 anos. Ele já tinha o hábito de usar camisinha, mas, um mês antes, teve uma relação sexual alcoolizado e se descuidou. Receoso, fez uso da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), tratamento de um mês aplicado após relações desprotegidas oferecido pelo SUS. Decidido a nunca mais passar pela situação, que o deixou bastante angustiado, ele entrou de cabeça na PrEP.
– Continuo usando camisinha, mas agora estou ainda mais protegido. Se sou suscetível ao álcool e isso pode me trazer risco, a PrEP pode me ajudar. Tenho um namorado há pouco tempo agora, se a relação se fortalecer, eu penso em deixar o medicamento – diz o professor.
Os relatos de Carlos e Rodrigo representam um comportamento evidenciado na PrEP Brasil, a pesquisa que fundamentou a decisão do Ministério da Saúde em oferecer o tratamento pelo SUS: quem começa a usar o medicamento não abandona a camisinha nem aumenta a frequência de relações, mas mantém o comportamento que tinha antes, só que com uma proteção a mais.
– Na PrEP Brasil, o que se confirmou é que a frequência do uso da camisinha se mantém estável, assim como a incidência de DSTs. Quem transa sem camisinha já fazia isso antes da PrEP. Só que essa estratégia é boa também para esses casos, porque vamos acompanhá-los e tratar as doenças quando aparecerem. A estratégia da década de 1980 de falar às pessoas para usarem sempre camisinha não dava autonomia, mas tentava controlar a vida sexual delas. E isso não se mostrou suficiente para controlar a epidemia brasileira – defende o médico infectologista Ricardo Vasconcelos, professor da Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da PrEP Brasil.
Serviço
— Quem pode solicitar PrEP no SUS
Gays, população trans, casais em que uma pessoa tem HIV e a outra não (sejam homo ou heterossexuais) e profissionais do sexo (homo ou hétero).
— Onde solicitar a PrEP no RS
Moradores da Região Metropolitana ou do Interior
Centro de Testagem e Aconselhamento Caio Fernando Abreu do Hospital Sanatório Partenon
Endereço: Avenida Bento Gonçalves, 3.722, Partenon, em Porto Alegre
Atendimento: de segunda a sexta, das 8h30min às 17h
Contato: (51) 3901-1328
Moradores de Porto Alegre
Posto de Saúde IAPI
Endereço: Rua Três de Abril, 90, Passo d’Areia
Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 17h
Contato: (51) 3289-3435
Posto de Saúde Vila dos Comerciários
Endereço: Rua Manoel Lobato, 151, Santa Tereza
Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 17h
Contato: (51) 3289-4052
Posto de Saúde Santa Marta
Endereço: Rua Capitão Montanha, 27, Centro Histórico
Atendimento: de segunda a sexta, das 8h às 17h
Contato: (51) 3289-2925