Talvez você nunca tenha ouvido falar na fáscia e, provavelmente, desconheça sua importância. Até pouco tempo, você não estava sozinho nessa: pesquisadores também não se interessavam por esse tecido que recobre nossos músculos e órgãos e até o descartavam nos estudos de anatomia. Mas, novas descobertas alertaram para os diferentes papeis da fáscia e sua importância no organismo.
Descobriu-se que suas funções iam muito além de servir de revestimento para algumas partes do corpo. Ao examiná-la com cuidado, viu-se que ela é fundamental para nossos movimentos, dar forma ao corpo, hidratar o organismo e para a comunicação entre tecidos e cérebro. Após a compreensão da relevância desse tecido conjuntivo, surgem os primeiros estudos de aprofundamento no tema.
Um deles analisou a questão do movimento. Observando os saltos dos cangurus, pesquisadores viram que a força muscular não era suficiente para gerar a impulsão, e concluíram que a energia que permitia os saltos era fruto do sistema miofascial. Testes de ultrassom mostraram que, assim como os animais, os humanos também contam com esse sistema para pular, correr e até caminhar. Outra função desempenhada por esta estrutura é dar forma e contorno a músculos, ossos e órgãos.
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Composta por água e colágeno, essa espécie de malha também colabora para a hidratação. Cintia Báril, profissional de Educação Física, explica que, quando estimulada, a fáscia consegue melhorar a distribuição de água pelo corpo, como se fosse uma esponja sendo espremida.
A fáscia também responde pela comunicação com o sistema nervoso central. Estudos apontaram a fáscia como o tecido com maior concentração de terminações nervosas, portanto, é nela que sentimos nossas dores e percebemos posturas e movimentos.
Uma modalidade só pra ela
Com tantas descobertas importantes, foi criado, na Alemanha, o primeiro grupo para estudar a fundo as funções da fáscia. Liderado pelo pesquisador Robert Schleip, o Fascia Research Group, da Universidade de Ulm, criou uma modalidade para desenvolver e tirar o máximo de proveito desse tecido. Como resultado, nasceu o fascial fitness, atividade que trabalha esse tecido e ajuda a criar consciência corporal, favorece o tônus muscular, melhora a flexibilidade, estimula a formação de colágeno e redução das dores.
– É uma técnica que veio para agregar e pode complementar a musculação ou treinamento aeróbico – diz Cintia, que é formada na modalidade e ministrará um curso sobre o tema em outubro, na Capital.
Treine sua fáscia
Sabe aquela dor chata e insistente na parte frontal do pescoço? Ela pode sinalizar algum problema no peito, por exemplo. Eliminar este tipo de sensação de forma duradoura é um dos benefícios da modalidade, que trabalha com a ideia de cadeia, ou seja, de que nosso corpo está completamente interligado. O médico reumatologista Carlos von Mühlen vê o fascial fitness como alternativa complementar para amenizar as dores crônicas.
– Vemos muitos pacientes com dores em função de contraturas musculares ou da fáscia por posturas errôneas, por ficarem muito tempo sentados em uma cadeira ou por passar horas a fio nos smartphones. Chega um momento que o alívio desses incômodos fica quase irreversível. O fascial fitness ajuda no posicionamento do corpo e na extração do melhor que a fáscia tem – avalia.
Em uma aula que dura entre 50 e 60 minutos, o aluno é estimulado a executar uma série de exercícios. Desde rolar uma bolinha de borracha pela planta do pé até utilizar um rolo vibratório para a parte externa no quadril, as atividades entram como complemento para uma vida mais saudável, mas não substituem práticas aeróbicas ou de força. Embora o exercício não tenha contraindicações – pessoas com algum problema têm exercícios adaptados –, Cintia reforça que é importante ter liberação de um médico ou fisioterapeuta para iniciar as aulas. Pessoas com dores agudas devem deixar a modalidade para um segundo momento do tratamento, sugere o reumatologista von Mühlen.