"Saí maduro", respondeu Nelson Mandela após se cansar com as perguntas do jornalista sobre como a prisão o havia transformado. Talvez tenha dito "saí maduro" para aquietar o entrevistador, nada mais. Entretanto, é certo que aprendeu em 27 anos encarcerado a controlar tanto sua agressividade quanto sua impulsividade. Quando a solidão se tornava insuportável e batia o desespero, vinham à sua mente os versos do poema Invictus: "Sou o capitão de minha alma/Sou o senhor de meu destino". Repetir essas frases, tornando-as seu ideal, ajudou Mandela no seu amadurecimento.
Uma das dificuldades do crescimento é a precoce marca narcisista de ter sido sua majestade, o bebê. Esse registro vai permanecer ao longo da vida, gerando resistências para renunciar a um lugar tão idealizado. Muitos mantêm, de variadas formas, essa dependência de ser a majestade de alguém, alimentando, assim, a onipotência infantil. Renunciar a essas ligações do passado é sempre sofrido, afinal, elas nos amparam. Não faltam obstáculos nessa verdadeira odisseia que envolve enfrentar o desamparo em direção a uma independência dos progenitores. Muitos envelhecem e seguem infantis nas relações amorosas, como ocorreu com o velho Rei Lear, de Shakespeare, sempre carente de palavras de amor. Existe, para cada um, sempre uma criança a matar, um luto a cumprir. Quando o luto não se faz, irrompe uma pessoa arrogante, como um vizinho generoso e autoritário que gostava de afirmar: "Nunca errei contra os outros, só contra mim".
Aprender a se queixar menos de si e dos outros é um dos sinais de crescimento. O processo de amadurecimento é um longo caminho, que também passa por suportar as inevitáveis frustrações do cotidiano. Frustração é a recusa da satisfação pulsional imediata. Amadurecer é também brincar, rir de si, manter o humor diante da passagem inexorável do tempo. Creio que não há caminhos fáceis, como podem ser as buscas por orientações mágicas ou dos passos apregoados para se chegar a uma maturidade tranquila. Além do que, não convém idealizar o amadurecimento, pois muitas pessoas podem ser afetivamente imaturas, mas criativas e plenas de vida. Por outro lado, há os maduros, pessoas respeitáveis, bem adaptadas, mas com vidas sem vivacidade pura.
Vi recentemente um documentário com sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz. Várias histórias dos terrores que jovens e crianças viveram e, depois, como seguiram suas vidas. Um dos sobreviventes deu uma palestra numa escola e, depois de falar, um assistente se aproximou e o felicitou por ser tão alegre mesmo tendo vivido tantas crueldades. O homem, então, disse: "A vida é um presente e devemos aproveitá-la". Fiquei fixado nessa frase, pois, depois de tudo que ele viveu, sentia-se grato à vida. Pensei na gratidão de viver desse homem, do Nelson Mandela, de nossos ancestrais ou de exemplos nos quais cada um pode se espelhar. Um dos sentidos do amadurecimento talvez seja o de aprender a encontrar graças no meio das desgraças e, assim, desfrutar a vida como presente.