Entender o amor e o que acontece com o nosso corpo quando somos tomados por esse sentimento são alguns dos objetivos do livro Neurociência do Amor. Escrita pelo neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes Pinto – que ficou conhecido no Brasil por suas colaborações no programa Encontro com Fátima Bernardes –, a obra busca dar embasamento científico a fenômenos que tomam nosso organismo quando nos apaixonamos. Dessa forma, pode nos ajudar na compreensão do sentimento e nos preparar para encarar de maneira racional as diferentes fases pelas quais ele passa.
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O livro aponta pesquisas que mostram todos os mecanismos do cérebro em relação ao amor. Mas se tudo ocorre no cérebro, por que teimamos em usar o coração como símbolo desse sentimento? A ciência já provou que ele bate mesmo mais forte quando encontramos a pessoa amada. Então, todo o colorido do amor é representado pelo coração, mas o que ocorre é um coquetel de neurotransmissões. O especialista conversou com ZH sobre o tema.
Em um trecho do livro, você escreve: "A luxúria e o tesão são fundamentais para começar qualquer boa história de amor". Poderia explicar melhor a frase?
A sensação de prazer é extremamente importante para dar início à paixão. Nem todo romance surge dessa forma, mas quando falamos daquele "cupido com a flecha" que vem e faz o cérebro ficar encantado é isso que precisa ocorrer. Quando a pessoa tem prazer, ela baixa a guarda e deixa que o parceiro entre na sua intimidade mental. Existem indícios de que, para manter o relacionamento aceso, é necessário olho no olho, toque físico, beijo e o elogio sincero.
É possível viver sem amor?
A vida tem fases. Há momentos de autoconhecimento em que o indivíduo é feliz sem necessariamente estar com outra pessoa. Hoje em dia, o plano de felicidade envolve trabalho, lazer, família, saúde física e financeira. Alguém extremamente focado no trabalho, com o passar do tempo, vê que conseguiu atingir metas, mas não tem amigos ou um relacionamento, por exemplo. Então, percebe um vazio, porque é difícil viver dessa forma. Há indivíduos que destinam a função amorosa para outra atividade ou ação caridosa.
Afinal, nós escolhemos nossos parceiros de forma consciente ou inconsciente?
Tem um trabalho publicado que afirma que relacionamentos quentes e apimentados ocorrem com pessoas que têm sistema imunológico diferente. Isso é um truque da biologia para que os filhos, que são um produto disso, tenham carga imunológica genética. O amor é livre, mas existem truques da natureza, o que explica por que, às vezes, há uma paixão por uma pessoa "não tão bonita".
Em um trecho, você diz que as mulheres procuram homens capazes de protegê-las.Isso ocorre sempre?
O cérebro humano tem a capacidade de mudar de conceito e de opinião, mas a tendência biológica remete a isso. As mulheres tendem a valorizar o instinto de proteção. É uma leitura inconsciente. Biologicamente, lá atrás, na seleção natural, o homem tinha o papel de caçar, e a mulher cuidava da prole. Existem evidências de que a escolha de alguém que a proteja seja algo intuitivo, mas não que isso não mude do ponto de vista social e cultural. Homens também podem gostar de proteção, mas emocional. Que homem não gosta de, antes de sair para trabalhar, ouvir um elogio da esposa?
Você afirma que os homens se apaixonam mais do que as mulheres. Por quê?
Eles acabam sendo muito românticos. Quando comparamos o ato de se apaixonar, aquele de ficar hipnotizado, maravilhado e perder o senso crítico, os homens acabam sentindo isso em uma intensidade e velocidade maiores do que as mulheres.
Homens são mais visuais, enquanto as mulheres são mais auditivas. Isso é uma regra?
Via de regra, é mais fácil que um homem torça o pescoço e olhe mesmo que sem querer para uma mulher, assim como o timbre de voz chama a atenção das mulheres, pois ele representa mais testosterona, mais masculinidade e proteção física. É muito mais fácil convencer uma mulher por meio da conversa do que pelo visual, e dificilmente uma mulher vai convencer um homem pelo papo. É uma leitura biológica bem primitiva.
Amor acaba?
Amor entre duas pessoas passa por fases. Tem o desejo, principalmente na adolescência, quando somos bombardeados por hormônios. Há a fase da paixão, que dura entre seis meses e dois anos. Depois, vem o amor romântico, que pode durar anos e anos. Como existem esses pontos de transição, pode haver rupturas e, sim, o amor seria finito em cada fase. Ninguém consegue ficar apaixonado para o resto da vida, até porque a paixão altera nosso senso crítico – quando achamos que a pessoas tem muito mais qualidades do que defeitos.
SERVIÇO
Neurociência do Amor: Entenda como Funciona o Coração Apaixonado
Dr. Fernando Gomes Pinto
160 páginas
R$ 32,90