Calma, esquecer onde largou a chave, deixar a porta destrancada ou o celular em casa sem querer não deve ser motivo de preocupação: isso é normal, acontece com todo mundo. E não é por ter que voltar ao mercado depois de deixar um item importante para trás que você está apresentando sinais de Alzheimer.
– Esquecer, todo mundo esquece. Em todas as fases da vida, estamos sujeitos a não lembrar de algumas coisas, desde provas até aniversários. A orientação é procurar um profissional quando isso começa a interferir na rotina, quando passa a ser mais persistente. Quando você faz a lista de compras, mas se esquece de levá-la, ou quando sistematicamente tem de pagar multa por atraso nas contas – conta Ivan Hideyo Okamoto, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Leia também:
Como controlar e melhorar sua memória
Trabalhando no Núcleo de Excelência em Memória (Nemo), Okamoto conta que percebe uma "alzheimerização" dos problemas de memória por parte dos pacientes, como se toda falha, ainda que acontecendo de maneira pontual, fosse um primeiro sinal da doença. Não é bem assim.
Quadros de ansiedade e estresse também dificultam a retenção de informações e levam a perdas temporárias de memória. Isso porque, quando há outros fatores envolvidos, fica mais difícil gravar algo, simplesmente porque não se estava prestando atenção. Esquecer uma panela no fogo porque o celular tocou, trazendo uma ligação importante, não é atípico. Agora, se isso acontece todo dia...
– Essa questão costuma ser confundida e vira motivo de preocupação. Mas, quando a memória é formada sem a atenção devida, quando uma atividade é feita no piloto automático, tem-se um esquecimento muito rápido mesmo, porque o foco estava em outro ponto. O problema é só quando isso vira rotina – aponta o neurobiólogo Lucas de Oliveira Alvares.
O que caracteriza os primeiros sinais de demência – deterioração mental cujo símbolo mais comum e frequente é justamente o Alzheimer – é a perda constante de memória recente. Como costuma acontecer mais com idosos, o problema acaba sendo creditado à senilidade e, assim, tido como algo inevitável, até pelo próprio paciente.
É preciso entender que ser visto como inapto a ir ao supermercado, dirigir ou tirar dinheiro do banco não é uma situação normal e, portanto, é necessário buscar ajuda médica. Nos consultórios, visitas tardias tendem a estar associadas a casos de depressão, porque o afetado passa a se sentir incapaz, indesejado.
Além da depressão, quadros como hipotireoidismo e ausência de algumas vitaminas podem levar a falhas na região do cérebro responsável pelas recordações. São questões reversíveis que, uma vez tratadas, levam à solução de ambos os problemas.
Quando acender o alerta
– Esquecer o celular em casa ou não lembrar onde deixou a chave não devem ser motivo de preocupação, contanto que casos assim não ocorram com muita frequência.
– O problema começa a tomar forma quando essas pequenas falhas de memória passam a se tornar comuns, acontecendo diariamente.
– Não conseguir se lembrar onde o carro ficou estacionado mais cedo ou daquele número de telefone que a pessoa acabou de passar já são casos que exigem mais atenção.
– A perda de memória nem sempre está associada à idade: jovens também podem sofrer com isso, ainda que com frequência a razão sejam males associados, como depressão.
Os níveis de esquecimento
Queixa subjetiva: ocorre em casos pontuais de falha de memória.
Comprometimento cognitivo leve: esquecimentos recorrentes e prejudiciais à vivência diária se encaixam neste espectro.
Quadro de demência: abrange perda de memória e dificuldade em reter informações novas, incluindo casos como o Alzheimer.