A morte de um menino de 16 anos durante uma aula de Educação Física, há cerca de uma semana, em um colégio de Porto Alegre, alertou a comunidade escolar sobre um problema não tão incomum quanto se imagina. Conforme levantamento realizado por Zero Hora, pelo menos 13 crianças e adolescentes com idade entre seis e 17 anos morreram no país de forma súbita – de paradas cardiorrespiratórias – desde maio de 2014.
Leia também:
Infarto: causas, sintomas e tratamentos
No caso mais recente, na capital gaúcha, o estudante jogava basquete quando começou a passar mal. Três dias antes, em Campinas (SP), outro garoto, de 13 anos, morreu após desmaiar durante um treino de corrida e sofrer, já no hospital, quatro paradas cardiorrespiratórias.
– Nesta idade (16 anos), o aluno já tinha participado de aulas de Educação Física em anos anteriores e, pelo visto, sem problema algum. Sendo assim, não seria de se esperar que tivesse algum problema que tornasse a aula um risco – afirma Lino Pinto de Oliveira Junior, professor orientador de Estágios Não Obrigatórios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e doutor em Fisiologia.
Segundo ele, parâmetros como intensidade, duração, tipo de atividade e pausas para recuperação são estabelecidos pelo professor de Educação Física para o grupo de estudantes, devendo atender à totalidade dos alunos da turma. Além dos cuidados na orientação da prática da atividade física em si, o professor também é responsável pelas questões relativas às condições ambientais para o desenvolvimento da aula, como temperatura ambiental, umidade do ar, disponibilidade de água e assim por diante.
– Embora tome todos os cuidados necessários para minimizar os riscos da prática de atividades físicas, o professor não tem como prever o improvável – sentencia o professor da Unisinos.
Cuidado deve partir de casa
O cardiologista Fernando Lucchese explica que há três formas de crianças e adolescentes sofrerem morte súbita por problemas ligados ao coração. A primeira é uma arritmia de alto risco, gerada por uma taquicardia ventricular (batimento acelerado causado pelo ventrículo, cavidade do coração que impulsiona o sangue para o corpo). A segunda hipótese, não tão comum, se dá quando o paciente sofre de um distúrbio metabólico, com presença expressiva no sangue de homocisteína, um aminoácido que provoca aterosclerose e a consequente obstrução coronária. A terceira situação ocorre quando a criança nasce com um aneurisma (dilatação aguda, um defeito genético) de aorta.
Conforme Lucchese, para evitar a morte prematura o cuidado deve partir de casa, com os pais acompanhando permanentemente eventuais sinais (tontura, palpitações, dor no peito e cansaço exacerbado) emitidos pelas crianças durante a prática de esportes e brincadeiras que exijam esforço físico.
– A observação dos pais é o mais importante. Se eles notarem alguma anormalidade, devem levar a criança ao pediatra e encaminhar os exames para a escola. Criança com dor no peito tem de ser investigada. Tem de fazer ecocardiogramas e raios-x para identificar a origem desta dor – diz Lucchese. – O ideal é que os pais observem os fenômenos em casa e levem ao colégio as soluções e os cuidados a serem tomados quando necessários.
Crianças obesas são mais propensas
Doutor em Educação e professor de Educação Física na Faculdade Metodista (Fames), Evandro Dotto Dias afirma que, independentemente da idade, é sempre recomendável avaliação médica antes de se iniciar alguma atividade que exija esforço:
– Antes de começar uma atividade física, é recomendável procurar um médico e realizar uma avaliação. Isso vale também no que se refere à educação física escolar.
Já o cardiologista Fernando Lucchese alerta para a necessidade de se observar de forma ainda mais atenta as crianças com sobrepeso, como no caso do jovem morto há cerca de uma semana em Porto Alegre:
– A criança obesa pode acelerar os problemas cardíacos. Ela tem de ser observada por meio de exames de colesterol, pressão e glicose. É preciso ter esta segurança. Ela pode até ter um acidente vascular cerebral (AVC) em razão de uma crise hipertensiva alta.