Estava eu andando por uma das ruas de Porto Alegre neste janeiro tranquilo, quando olho para o chão e deparo com a seguinte pergunta: "Qual é seu sonho?". Fui tomada por um encantamento pela profundidade da pergunta em uma calçada. Porém, nem 10 segundos depois, me invadiu um triste espanto: eu não sabia responder qual é o meu sonho hoje. Lembrei de alguns sonhos antigos – uns alcançados, outros esquecidos –, mas nenhum era um sonho mesmo, atual e visceral. Fiquei perplexa. Logo eu, semeadora de sonhos em tantas crianças, me vi sem nenhum.
Sonhos, para mim, sempre foram combustível. Antes mesmo de a programação neuro linguística (PNL) ser acessível a todos e pedir que passássemos a chamá-los de objetivos, eles já existiam dessa forma: como algo que deveria ser criado na mente e buscado nas ações diárias. Mas não falo de sonhos básicos e populares como ver os filhos felizes, ter uma casa e um ótimo emprego. Me refiro a sonhos específicos, que nos fazem levantar todas as manhãs. Faltando sonhos também nos falta entusiasmo.
Então, pensei na quantidade enorme de adultos que, assim como eu, se veem no automático, fazendo tudo (quase) igual todos os dias, sem planejamento (não falo em agendar compromissos, hein!), sem metas desafiadoras, sem objetivo a longo prazo, sem um alvo excitante. Como chegamos a isso? Como deixamos isso acontecer? E, como uma reflexão vai levando à outra, logo lembrei que estamos criando uma geração de "sem sonhos". É! E não adianta dizer que seus filhos sonham com as férias na Disney ou em passar de fase no jogo do computador, porque não é desse tipo de sonho que estou falando. Falo em plano, em desejo intenso, em ideal a ser perseguido com paixão e obstinação por um anseio interno pulsante e não por uma ambição sazonal e momentânea. Algo que exista independentemente da tendência. Algo que seja buscado para engrandecimento pessoal, e não para ostentação pública. Algo íntimo.
Será que nossos filhos estão correndo atrás do que anseiam? Melhor ainda: será que estamos criando filhos que anseiam por alguma coisa? Para desejar, é imprescindível a falta. Melanie Klein, uma famosa psicanalista austríaca do século 20, já falava sobre a importância do desejo e do quanto ele surge pela percepção de algo que não está disponível em livre demanda. Então, se levarmos em consideração que cada vez mais está tudo ao alcance das mãos das nossas crianças – seja por comodismo, por conformismo, por culpa, ou por qualquer outro sentimento que nós, adultos, carregamos –, devemos ter muito mais atenção, porque não estamos apenas desenvolvendo seres humanos preguiçosos que darão trabalho a um futuro cônjuge, estamos formando seres pela metade. Quem não tem sonho não tem entusiasmo e também não se sente completo.
Sim. Desculpem-me, mas serei repetitiva: é preciso permitir que nossos pequenos se frustrem! É muito necessário que eles não tenham tudo o que querem no momento que desejam. Não por não podermos proporcionar, mas porque a vida real exige movimento; e isso só é possível quando há busca. Portanto, busquemos mais e deixemos que busquem!