Apesar de não haver registros de febre amarela no Rio Grande do Sul desde 2009, o ressurgimento de um grande número de casos suspeitos da doença no país – sobretudo em Minas Gerais – deixou o Estado em alerta. O governo gaúcho e a prefeitura de Porto Alegre emitiram avisos e notas técnicas sobre a situação.
A Secretaria Estadual da Saúde divulgou um documento com orientações para o controle da doença. Entre as medidas recomendadas, está o alerta para que a população notifique as Secretarias Municipais de Saúde sempre que macacos mortos forem encontrados. Essas ocorrências precisam ser investigadas, pois podem indicar que o vírus está circulando na região.
A pasta recomenda também a vacinação de pessoas com viagens marcadas para locais com circulação do vírus, conforme indicação do Ministério da Saúde. A dose deve ser tomada com pelo menos 10 dias de antecedência.
Mais de 1,9 mil doses da vacina contra a febre amarela foram aplicadas pelos postos de saúde de Porto Alegre só neste mês, e o número deve aumentar até o final de janeiro. De acordo o médico Juarez Cunha, da equipe de Vigilância de Eventos Vitais e Doenças não transmissíveis da Secretaria Municipal, não faltam doses nos postos de saúde da Capital:
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– Nós observamos um aumento na procura pela informação, ao mesmo tempo que no número de doses aplicadas. Passamos de 899 doses aplicadas em janeiro de 2016 para 1.965 neste mês – observa.
Com a fila na busca pela vacina, principalmente na unidade de saúde Modelo, a Secretaria de Saúde de Porto Alegre orienta para que a população procure os outros 104 postos do município.
– A equipe de imunizações está se preparando, solicitando um número maior de doses para tentar evitar que ocorra uma falta da vacina na nossa rede – salienta.
O secretário da Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, recomenda que os profissionais de saúde fiquem alertas ao atenderem pacientes com os sintomas da doença:
– A gente não está em situação de risco por febre amarela em Porto Alegre. Mas, como houve casos em uma região bem circunscrita de Minas Gerais, pessoas que por lá passaram devem vir para Porto Alegre e desenvolver a doença aqui. Então os profissionais da saúde precisam estar alertas.
Mortes por febre amarela chegam a 23 em Minas Gerais
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou nesta quinta-feira que o Estado já registra 23 mortes confirmadas para febre amarela. Trata-se da maior epidemia da doença registrada no Estado, segundo a secretaria. Há ainda 206 casos notificados da doença.
O governo de Minas Gerais enviou recomendação a três prefeituras de cidades que fazem divisa com municípios de São Paulo para que a população compareça aos postos de vacinação. Em todos há rumor de mortes de macaco, a primeira suspeita de que a doença pode ocorrer na região.
Todas as mortes registradas até o momento pela doença em Minas ocorreram nas quatro regionais de saúde que tiveram decretada situação de emergência por causa da doença: Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), Governador Valadares (Leste), Coronel Fabriciano (Vale do Aço) e Manhumirim (Zona da Mata).
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal também confirmou nesta quinta-feira a morte de um homem de 40 anos por febre amarela. Esta é a primeira morte causada pela doença na capital do país desde 2009. A vítima morava na cidade de Januária, em Minas Gerais, e chegou ao DF na última segunda-feira já com os sintomas. O Distrito Federal está na área em que há recomendação para vacina contra febre amarela.
Entenda a doença
A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus (vírus transmitido por insetos), que pode levar à morte em cerca de uma semana se não for tratada rapidamente. No Brasil, desde 1942 só são registrados casos silvestres da doença, ou seja, cujo vírus é transmitido pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nestas situações, os casos humanos ocorrem quando uma pessoa não vacinada circula em uma área silvestre e é picada por um mosquito contaminado.
– O bugio, assim como outros macacos, é um sentinela da febre amarela e não o transmissor da doença. Quem transmite é o mosquito através da picada. Tem gente que vê um bugio morto e pensa que ele é o transmissor. Na verdade, o bugio é vítima do mosquito e avisa sobre a proliferação do inseto – explica Renan Stadler, veterinário do Zoológico de Gramado.
No caso da febre amarela urbana, o vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti ao homem, mas este tipo não é registrado no Brasil desde 1942, quando houve um caso no Acre.
A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa para pessoa. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus.
Em 2015, foram registrados nove casos de febre amarela silvestre em todo o Brasil (seis em Goiás, dois no Pará e um em Mato Grosso do Sul), com cinco óbitos. Em 2016, foram confirmados sete casos da doença, nos Estados de Goiás (3), São Paulo (2) e Amazonas (2), sendo que cinco deles levaram a óbito.
Sintomas
Os sintomas iniciais são febre de início súbito, calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem a doença grave podem morrer.
Imunização
– Crianças de 9 meses a 4 anos completos: administrar uma dose a partir dos 9 meses e uma dose de reforço aos 4 anos, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.
– Pessoas a partir de 5 anos:
a) Com uma dose da vacina administrada antes dos 5 anos: administrar uma única dose de reforço, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.
b) Com uma dose da vacina administrada com mais de 5 anos de idade: administrar uma única dose de reforço, 10 anos após a administração da primeira dose.
c) Com duas doses de vacina: a imunização está completa. Não administrar nenhuma dose.
d) Pessoas não vacinadas ou sem comprovante de vacinação: administrar a primeira dose da vacina e uma dose de reforço 10 anos depois.
– Pessoas com 60 anos e mais, que nunca foram vacinadas ou sem comprovante de vacinação: o médico deverá avaliar a vacinação, levando em conta o risco da doença e o risco de efeitos adversos pós-vacinação nessa faixa etária.
– A vacina contra a febre amarela não é indicada para gestantes e mulheres que estejam amamentando crianças menores de 6 meses.
*Fonte: Secretaria Estadual de Saúde