Dia desses, em uma aula de Psicologia, me dou conta de que o tempo inteiro se falava em "mãe" e "maternagem" (no caso, a falta disso na infância) como responsabilidade por todas as questões ligadas à conduta e a sintomas psíquicos na criança. Por mais que saibamos que a referência estava relacionada ao cuidador de uma maneira geral, a denominação inevitavelmente gera um estereótipo.
Noutro dia, ouvi uma senhora comentar sobre a total responsabilidade de sua mãe pela infância infeliz que guarda em sua memória (sendo que existia um pai ausente na história). Na mesma conversa, outra senhora contou que, quando estava prestes a ganhar bebê, seu marido se certificou de que poderia concluir a sagrada partida de futebol para só depois levá-la à maternidade. Ambas deram risada, concluindo que isso era "coisa de homem, todos uns crianções!"
Recentemente, abrindo a Zero Hora, leio o Piangers escrever a respeito do triste julgamento das pessoas quando o assunto é "mãe solteira" (na minha humilde opinião, expressão muitas vezes utilizada de forma pejorativa). Aliás, por falar em Piangers: é inegável seu talento. Inteligente, sensível e ótimo escritor, causa ainda mais encantamento exatamente por ser um pai, ou seja, um homem com esse olhar "materno". Perceberam o preconceito?
O fato é que estamos no século 21. Pensávamos que os carros voariam nesta época, mas sequer conseguimos eliminar uma cultura impregnada de ideologias ultrapassadas.
Infelizmente, ainda é pulsante a desigualdade de ideias a respeito do papel destinado a mulheres e homens na sociedade. Não é possível que mulheres ainda sintam-se mais responsáveis por seus filhos do que os homens. Não é aceitável que uma mulher que cria seu filho sozinha sinta-se diminuída por isso. Não é justo que as mulheres culpem umas às outras pelo que acontece com as crianças mundo afora.
Pelo que percebo, homens e mulheres saem de casa e retornam em horários muito semelhantes, se não iguais. Dividem as contas domésticas. E, quase sempre, entram em um consenso em relação a quando terão um bebê. Então, não há nada que explique o motivo de tamanha cobrança em cima delas quando o assunto são filhos.
Sei que nem todas as pessoas pensam dessa forma. Dias atrás mesmo assisti à seguinte cena: um pai indo conhecer uma escola para colocar a filha. Enquanto a funcionária mostrava o lugar, discretamente sondou se a criança não tinha mãe. Foi quando o pai disse todo orgulhoso que "sim, ela tinha mãe", mas que ela estava superocupada naquela semana, portanto, a tarefa seria dele. Onde mesmo está escrito que assuntos importantes são decisões femininas?
Espero que cada vez isso seja mais comum e que logo possamos dizer: sejam todos bem-vindos ao mundo moderno, onde mães e pais não apenas geram juntos, como decidem juntos tudo aquilo que se refere à vida de seus pequenos. Não tenho dúvida de que será um mundo muito melhor de se viver.