Rabinho balançando, latidos, arranhões e roçadas nas pernas são ações com as quais os donos de cães estão bem habituados. Porém, nem sempre os sinais passados por essas ações são claros. Os cães usam muito a expressão corporal para se comunicar e boa parte das atitudes dos animais adultos é um reflexo da época em que eram filhotes. De acordo com Maurício Choinski, adestrador da empresa Cão Cidadão, quando pequenos eles começam a entender os sinais dados pelos irmãos ou pela mãe, dando início ao processo de aprendizagem da comunicação.
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– Quando retirados muito cedo da ninhada, antes dos três meses, eles podem ter dificuldade de entender os outros cães. Um exemplo é quando todos querem mamar na mesma teta e um rosna. Isso demonstra que aquele é um limite. Assim como quando a mãe sai de perto, o filhote insiste e ela rosna. São sinais que são aprendidos na matilha – exemplifica o adestrador.
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Para o especialista, passado esse período deve-se iniciar a fase de ambientação com os mais diversos tipos de pessoas, ambientes, sons e situações. Mesmo diante desta socialização, algumas condutas dos animais ainda podem deixar os donos em dúvida. Veja o que elas significam:
Quando são intensos e em sequência, mostram que o peludo está incomodado com alguma situação. Choinski afirma que os cães acreditam que o seu território é tudo aquilo que conseguem enxergar, incluindo os limites além de grades e cercas:
– Os cães acham que alguém está invadindo uma área que eles têm certeza que é deles. Quando um carteiro chega, coloca a mão para dentro, o cão late tímido e a pessoa vai embora. Então, o animal associa que o latido deu certo e reforça o hábito.
Também há os latidos que caracterizam a síndrome da ansiedade da separação (leia abaixo), que ocorre sempre que o dono sai de casa. Nestes casos, é preciso ficar atento, pois o animal relaciona a saída do tutor a algo ruim e seu retorno como o melhor momento do dia, podendo gerar sofrimento.
Lambidas até formar feridas e até mordidas também podem representar um dos sinais da síndrome da ansiedade da separação. Estes sinalizadores podem estar ou não associados a um quadro médico de problema dermatológico. O mais indicado é procurar um especialista em comportamento animal para avaliar o problema.
Caminhar arrastando o bumbum no chão
Muitas vezes associado a vermes, o hábito pode, sim, indicar que o animal precisa tomar vermífugo. Entretanto, também pode ser interpretado como um ato de higiene para limpeza do ânus, de acordo com o adestrador.
– Se esse comportamento começar subitamente pode sinalizar um quadro médico – diz a fundadora da Pet Anjos e veterinária especialista em comportamento animal, Carolina Rocha.
Conforme Carolina, não há comprovação de que os cães busquem na grama ou em plantas uma forma de provocar o vômito, aliviando possíveis dores de estômago. Para ela, o comportamento é simplesmente repetido pois o animal gosta do sabor.
A situação constrangedora de ter o cão agarrando a perna de uma pessoa ou subindo em outro animal não tem nenhuma conotação sexual como os humanos pensam. Segundo Carolina, o ato serve para chamar a atenção.
– Ninguém ignora este comportamento. Quando fazem isso em outros cães, podem demonstrar que querem brincar, mas a atitude não é bem vista, pois os cães tem uma certa "diplomacia" para fazer estes convites – explica a veterinária.
Tal hábito também pode querer demonstrar dominância sobre o outro, conforme Choinski.
Não significa que o animal está bravo, mas, sim, desconfortável com alguma situação ou com medo.
– As crianças não têm muito cuidado ao mexer nos cachorros. Puxam o rabo e os pelos, mexem nas orelhas. Os cães reagem mostrando os dentes para dizer que não estão satisfeitos. A criança ri e acha que ele está sorrindo. E o cachorro vai avisando "eu não quero, eu não quero". Se insistir, o próximo passo é ele fechar a boca e travar o focinho. Isso acontece instantes antes de eles morderem. Cachorro não sorri – fala o adestrador.
Carolina desfaz o mito de que os cães são agressivos e que mordem intencionalmente. De acordo com ela, o animal não sabe o que está acontecendo e esta é a forma que encontra de dizer que não quer passar pela situação. Em apenas 5% dos casos eles agem por terem um comportamento agressivo, garante.
Quadril para cima com o rabo levantado e cabeça baixa
Geralmente, quando um cão faz isso está convidando alguém para brincar. Pode ser o próprio tutor, como outro cão. O passo seguinte a esta ação é esperar uma resposta. Se o convite foi feito a outro cão e este virou as costas, demonstra que ele não está a fim.
Pode significar felicidade ou alerta, tudo vai depender dos demais sinais. Se o cão estiver com a língua solta e orelhas baixas, mostra relaxamento. Agora, se o cão estiver de orelhas em pé, olhos semi-cerrados, músculos tensionados demonstra preocupação com alguma situação.
É apenas uma maneira de se refrescar. Carolina lembra que a região não tem tantos pelos e facilita o resfriamento do corpo. Também pode ser simplesmente um hábito.
O que é a síndrome da ansiedade da separação
Acontece quando o animal deixa de comer, beber água, destrói objetos, arranha portas, late ou uiva quando o dono sai. Amenizar a situação é uma atitude que deve começar pelos tutores. O primeiro passo é não valorizar as saídas e tampouco o retorno. Outra dica é usar sinais que eles sabem identificar para mudar esta associação. Por exemplo, o proprietário pode pegar a chave do carro ou a bolsa e ir para a sala ver televisão ou para a cozinha tomar café. Desta forma, o animal desfaz a relação de que aquele ato é sinônimo de uma saída.