Uma doença que não tem sintomas muito bem definidos e ainda gera mais perguntas do que respostas, a esclerose múltipla acomete mais de 35 mil brasileiros e mais de 2 milhões de pessoas no mundo todo. Para diminuir as dúvidas, o preconceito e também disseminar informações sobre o problema, foi criado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, que é lembrado a cada 30 de agosto.
Definida como uma doença autoimune, a esclerose múltipla ocorre quando o sistema imunológico ataca o próprio sistema nervoso central, prejudicando a comunicação entre neurônios e acarretando na perda de agilidade dos movimentos e até de outras funções neurológicas como a visão.
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– São gerados anticorpos contra proteínas da bainha de mielina, que é o revestimento da maioria dos neurônios cerebrais e da medula. Essa camada é um acessório fundamental para que os impulsos elétricos atinjam a velocidade necessária para que os indivíduos tenham movimentos e ações de forma ágil e efetiva – explica o chefe do serviço de Neurologia e Oftalmologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Alessandro Finkelsztejn.
Com isso, o paciente pode perder os movimentos, ter problemas de equilíbrio, fala e visão, quadro que é muitas vezes confundido com problemas como demência e até mesmo Alzheimer. Finkelsztejn afirma que, embora menor do que há 10 anos, ainda existe preconceito em relação à doença. Segundo ele, muitas vezes o quadro é motivo de eliminação em processos seletivos de emprego e até julgamentos equivocados dentre colegas de trabalho.
Outro desafio que envolve a doença é a dificuldade de bater o martelo na hora de dar o diagnóstico: os sintomas nem sempre são claros e podem ser comuns a outras patologias.
– O diagnóstico se dá por um conjunto de critérios chamados de Critério de McDonald. Ele é baseado tanto no quadro clínico, como em exames de ressonância magnética de crânio ou medula – que pode sinalizar lesões típicas da doença –, de sangue e liquor (fluido que age como "amortecedor" para o córtex cerebral e medula espinhal) que servem para excluir outras doenças similares como lúpus, neuromielite óptica e infecções por HIV, HPLV e deficiência de vitamina B12 – diz o neurologista.
Ainda que as suas causas não sejam claras – estudos sugerem que possa haver predisposição genética e até mesmo relação com clima temperado e deficiência de vitamina D–, o que se sabe é que o sexo feminino é mais suscetível à doença e a faixa etária economicamente ativa, entre 20 e 40 anos, é a mais afetada. No Rio Grande do Sul, entre os pacientes com a doença, 70% são mulheres.
– Os mecanismos da esclerose múltipla vêm sendo estudados e identificados no mundo todo, o que possibilita uma melhora na indicação do tratamento e consequentemente na vida das pessoas afetadas – afirma a professora de neurologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Soniza Alves-Leon.
Hoje, os medicamentos disponíveis servem tanto para um tratamento a longo prazo quanto para amenizar os surtos. Os imunomoduladores e imunosupressores modificam o sistema imunológico, reduzindo a formação dos anticorpos que atacam o organismo e também agindo contra a progressão da patologia.
– Cabe lembrar que cada caso é um caso. É importante consultar um médico e não assumir conceitos gerais da doença, pois é preciso receber um tratamento customizado – orienta Finkelsztejn.