Jovens que sofrem lesões cerebrais traumáticas, como concussões, são mais propensos a sofrer problemas psicológicos e sociais a longo prazo, segundo um estudo publicado nesta terça-feira na revista PLOS Medicine. O estudo foi realizado com cerca de 100 mil crianças e adolescentes na Suécia que nasceram entre 1973 e 1985 e sofreram pelo menos uma lesão cerebral traumática (TBI) antes dos 25 anos.
Os pesquisadores compararam os participantes com os seus irmãos saudáveis, e os acompanharam até a idade adulta, até completarem 41 anos.
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– Descobrimos que o TBI previu consistentemente um risco posterior de mortalidade prematura, internação psiquiátrica, visitas ambulatoriais psiquiátricas, pensão por invalidez, recebimento de previdência social e baixo nível de escolaridade – ressaltou o estudo, liderado por Seena Fazel, da Universidade de Oxford.
– Os efeitos foram mais fortes para aqueles com lesões de maior gravidade, reincidência e para os que eram crianças mais velhas no momento da primeira lesão – acrescentou.
O TBI é a principal causa de lesões e morte entre pessoas com menos de 45 anos em todo o mundo, de acordo com o estudo. Acredita-se que 9% dos jovens sofrem algum tipo de TBI em suas vidas, de acordo com uma análise que se baseou em registros suecos de saúde de mais de um milhão de pessoas.
Em um artigo que acompanha o estudo, os pesquisadores Donald Redelmeier e Sheharyar Raza, do Departamento de Medicina da Universidade de Toronto, advertiram que os riscos relativos descritos no estudo são resultado de uma comparação entre dois grupos de pessoas.
Este risco é, portanto, diferente do risco absoluto que reflete as chances de um indivíduo desenvolver um determinado problema ou doença durante a vida, e que é em geral uma percentagem muito menor.
– A maioria das pessoas parecem se recuperar completamente e não experimentam resultados adversos – escreveram os cientistas.
O estudo tampouco prova que as lesões cerebrais foram a causa dos problemas apresentados mais tarde, senão que mostra apenas que existe uma associação entre as duas coisas.
Outro especialista externo, Michael Swash, professor emérito de neurologia na London School of Medicine, vê a "falta de detalhes sobre os ferimentos na cabeça" como uma falha do estudo.
– Por exemplo, a natureza do ferimento na cabeça, o grau de anormalidade do cérebro mostrado em uma tomografia (pelo menos nos casos mais recentes), a classe socioeconômica dos feridos e o histórico familiar de doenças psiquiátricas não são descritos – ponderou Swash.
Por outro lado, Huw Williams, professor de neuropsicologia clínica na Universidade de Exeter descreveu a pesquisa como "incrivelmente forte".
– Eles tomaram muito cuidado para tentar administrar toda uma gama de covariáveis e fatores de confusão, e a história é muito consistente com o que está surgindo em várias áreas (esportes, crime e saúde mental), que a lesão cerebral traumática (TBI), de vários níveis de gravidade, é problemática no longo prazo – argumentou.