A identificação de uma variante inédita de uma das bactérias causadoras da meningite no Rio Grande do Sul não representa "maior risco à saúde pública", garante a diretora Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Marilina Bercini. A representante do órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a cepa rara causa uma meningite que não difere em gravidade, sintomas ou tratamento.
– É um caso de meningite como qualquer outro – resume a diretora.
A cepa é uma variação da bactéria Neisseria meningitidis, também chamada de meningococo, que causa a maior parte dos casos de meningite diagnosticados no Estado e no país. A bactéria é classificada em 12 tipos ou sorogrupos, indicados por letras, sendo os mais comuns B, C, W e Y. O sorogrupo da cepa localizada no Rio Grande do Sul é o X, encontrado pela primeira vez no Estado.
O médico infectologista e gestor do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Mãe de Deus, Gabriel Narvaez, afirma que, enquanto na América do Norte o tipo mais comum é o B, no Brasil o sorogrupo predominante é o C. O tipo A está erradicado pela vacinação e não circula no Brasil.
– O X é muito incomum e é pouco provável que isso (detecção no Estado) represente um fator de risco. Devemos continuar com percentuais baixíssimos – afirma.
Cepa rara causou doença em criança de três anos
A identificação do sorogrupo da bactéria foi feita pelo Laboratório Central do Estado (Lacen) em maio, mas divulgado nesta semana. Para isso, o órgão analisou o líquido cefalorraquidiano de uma criança de três anos. A paciente já passou pelo tratamento e está bem. O município de residência da criança não foi divulgado.
– O X tem a característica de ser esporádico, então ainda não sabemos se ele vai circular ou não. Vamos acompanhar para ver se é uma identificação única ou se vai circular – explica Marilina.
A diretora acrescenta que o acompanhamento será feito por meio do procedimento padrão para todos os casos de meningite, sem a necessidade de uma ação especial.
– Mantém-se as medidas já existentes. Todo profissional de saúde que atende um caso suspeito de meningite o notifica ao município, e o Estado acompanha os números dos municípios. Se está dentro do esperado, ficamos apenas monitorando e as condutas clínicas são mantidas – informa.
No caso da meningite ter sido causada por um meningococo, independentemente do sorogrupo da bactéria, a conduta comum é realizar a quimioprofilaxia: o fornecimento de um antibiótico profilático para os contatos íntimos do paciente, como familiares ou colegas de escola. O objetivo da medida é evitar que eles sejam contaminados com a doença.
Apesar de não modificar os procedimentos em relação à meningite, a descoberta do tipo X serve como um alerta para as autoridades de saúde pública, afirma a coordenadora da Seção de Bacteriologia do Lacen, Loeci Natalina Timm.
– É um novo fator para ficarmos atentos, para ver qual será o comportamento dele – afirma.
Este ano, já foram registrados 30 casos de meningite meningocócica no Estado, e cinco desses pacientes morreram. Na mesma época do ano passado, foram registrados 48 casos dessa doença, e 10 óbitos.