Clima tropical, corpos à mostra e apelo midiático por um padrão de beleza praticamente inalcançável são algumas das razões que levam milhares de brasileiras (e brasileiros) a uma mesa de cirurgia em busca de reparos estéticos.
Segundo dados de 2014 da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps, na sigla em inglês), o Brasil é o segundo no ranking mundial de cirurgias plásticas – mais de 1,3 milhão de operações foram realizadas naquele ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
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Também ficamos com a medalha de prata quando os números levam em conta todos os procedimentos estéticos, como preenchimentos e peelings. Ainda de acordo com a Isaps, foram realizadas 217 mil lipoaspirações e 185 mil implantes mamários de silicone em 2014 no Brasil – as duas cirurgias mais procuradas no país. Ainda que operações reparadoras, como em casos de acidentes, cicatrizes ou sequelas de doenças, também sejam comuns, é a busca pela beleza que mais motiva os brasileiros a procurar um cirurgião plástico.
Para o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Niveo Steffen, a preocupação com a estética pode parecer exagerada para muitos, mas está relacionada ao bem-estar, um dos requisitos básicos da saúde preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS):
– A OMS estabelece que conceito de saúde é o bem-estar orgânico e psíquico. Apesar de a maioria dos pacientes ainda serem mulheres, os homens também têm frequentado os consultórios para corrigir imperfeições ou mudar algum aspecto do corpo.
De acordo com o cirurgião plástico Carlos Uebel, diretor da Isaps, 35% dos procedimentos estéticos hoje são realizados pelo público masculino. Conforme o especialista, lipoaspiração, remoção do excesso de pele nas pálpebras e microimplante capilar para corrigir a calvície são os preferidos deles. Independentemente do gênero, antes de se submeter a uma cirurgia ou procedimento estético, é importante observar alguns quesitos para evitar arrependimentos e, principalmente, prejuízos às saúde. O bom senso sempre deve prevalecer.
Conheça as principais recomendações para realizar plásticas e alguns procedimento estéticos não cirúrgicos.
Plásticas
Aumentar ou reduzir medidas, corrigir imperfeições e esconder os efeitos do tempo são alguns dos objetivos mais comuns dos pacientes que procuram as cirurgias plásticas no Brasil. Embora possam parecer distintos, na prática os conceitos de cirurgia estética e reparadora se misturam.
– Uma mulher que não tem mama busca nessa cirurgia ser igual a seus pares. Óbvio que há o lado estético, mas ele está sempre junto ao propósito de reparar aquilo que a natureza não fez, ou que o tempo ou uma gravidez, por exemplo, alterou. Nós não dividimos o que é só estético daquilo que é reparador. Invariavelmente, eles caminham juntos – afirma Niveo Steffen, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Lipoaspiração
A lipo é a campeã de procura entre os brasileiros. A técnica consiste em retirar por meio de uma cânula (um pequeno tubo) o excesso de gordura das camadas mais profundas da pele, como se fosse um aspirador de células (veja ao lado). O procedimento foi criado em 1977 pelo cirurgião francês Yves-Gerard Illouz.
De lá para cá, o principal avanço nesse tipo de cirurgia foi a redução do tamanho das cânulas: elas passaram de um centímetro para até três milímetros atualmente. Outra novidade diz respeito à quantidade de gordura que pode ser retirada. Inicialmente, Illouz sugeriu retirar no máximo dois litros. Hoje, no Brasil, conforme determinação do Conselho Federal de Medicina de 1987, é permitido expirar até cinco litros.
A cirurgia não é indicada para tratar casos de obesidade e, sim, eliminar o acúmulo de tecido adiposo de algumas regiões específicas como culotes, costas, cintura, braços coxas e pescoço.
– Lipoaspiração não vai tratar pacientes com índice de massa corporal acima de 34. Não é recomendado – diz Carlos Uebel, diretor da Isaps.
Implante de silicone
A primeira cirurgia de implante de silicone do mundo foi realizada há 54 anos, nos EUA. Idealizada pelos cirurgiões Frank Gerow e Thomas Cronin, a operação foi feita em uma mulher que pretendia retirar uma tatuagem dos seios, mas aceitou servir de cobaia.
O procedimento é o terceiro mais realizado no mundo, com mais de 1,3 milhão de registros em 2014. Ao longo dos anos, o implante foi se tornando mais seguro e com menos riscos de problemas como a contratura capsular, a formação de tecido em torno do implante.
– Hoje, o índice é entre 1% e 2%. Antes, era em torno de 30%. Ou seja, a cada 10 mulheres, três tinham o problema – comenta Steffen.
Além disso, as próteses estão sendo produzidas com materiais cada vez mais semelhantes ao órgão, deixando um aspecto mais próximo do natural. A indústria modificou os formatos – hoje, existem três, escolhidos de acordo com a composição corporal de cada paciente.
Recentemente, foi criada uma prótese com um marcador interno, uma espécie de chip, que permite controle de validade, temperatura e identificação por qualquer médico, garantindo mais segurança.
Minilifting com enxerto de gordura
Tirar, preparar, injetar, preencher e puxar. É mais ou menos dessa forma que funciona o minilifting com enxerto de gordura, procedimento que tem como objetivo devolver um aspecto jovem ao rosto.
Na primeira parte da cirurgia, retira-se uma porção de gordura da parte interna dos joelhos, da região do abdômen ou de outra parte do corpo do paciente. Esse tecido adiposo é centrifugado e acrescido de células-tronco. Em seguida, microcânulas preenchem áreas do rosto que tenham rugas com essa preparação.
Depois das aplicações, o paciente é submetido a um minilifting, processo que remove o excesso de pele do local. Por meio de um corte em frente à orelha, o cirurgião retira a pele excedente.
Procedimentos não cirúrgicos
Preenchimentos
Agem como uma borracha para apagar as marcas do sol, da poluição e do tempo. Essa é a proposta dos procedimentos considerados não cirúrgicos e que conseguem reduzir rugas e marcas de expressão do rosto. Segundo dados do Isaps, foram realizados 546.995 procedimentos desse tipo no Brasil em 2014.
Além de menos agressão e dor, os resultados tendem a ser percebidos na hora, ao contrário das plásticas. Outro benefício é a recuperação, muito mais rápida e que não afasta o paciente de suas atividades de rotina. Os preenchimentos costumam ser uma boa solução para disfarçar os sulcos debaixo dos olhos e também o chamado bigode chinês (rugas na linha entre o nariz e a boca).
– Os mais comuns são os não permanentes, que preenchem no momento da aplicação e estimulam colágeno também. Além disso, têm poder de hidratação – garante a dermatologista Célia Kalil, assessora do departamento de laser da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O produto mais usado com essa finalidade é o ácido hialurônico, disponível no mercado em diversas concentrações, que é injetado nos locais que precisam de tratamento. Uma aplicação, realizada por meio de injeções, dura cerca de um ano. Quando inserido nas camadas mais superficiais da pele, o ácido também ajuda na hidratação.
Toxina botulínica
Um dos recursos mais conhecidos, a toxina botulínica corta a comunicação entre o sistema nervoso e os músculos, paralisando a região e dando o efeito “estica” à pele.
– Ela dá uma relaxada no músculo. Ocorre, então, uma diminuição da contratura da musculatura – explica Célia.
A descoberta de que a substância provoca o botulismo, ou seja, essa paralisia generalizada de uma região, ocorreu em 1987 no Canadá. Primeiramente utilizada somente para fins terapêuticos no tratamento do estrabismo, a substância teve seu uso estético descoberto pela oftalmologista Jean Carruthers, que observou uma redução das rugas de seus pacientes que usavam a toxina. Em parceria com o marido, o dermatologista Alastair Carruthers, passou a estudar a aplicação da substância no tratamento anti-idade. Hoje, o casal é considerado a principal referência no assunto, conforme Célia.
A toxina botulínica pode ser aplicada entre as sobrancelhas, ao lado dos olhos (nos pés de galinha), na testa e no pescoço, e seu efeito tem duração média de seis meses. Todos os esforços dos pesquisadores têm se voltado para aumentar esse prazo, que pode chegar a oito meses, dependendo do metabolismo de cada paciente. Quando começaram as aplicações, a duração girava em torno de quatro meses.
– Durar mais dois meses em um procedimento não cirúrgico é uma grande vantagem – diz Célia.
As cirurgias mais procuradas
Fique atento
É importante que todos os procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não, sejam realizados por médicos. Antes de escolher um cirurgião plástico, veja se ele é credenciado na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Preenchimentos e aplicação de toxina botulínica também podem ser feitos por dermatologistas credenciados na Sociedade Brasileira de Dermatologia.
E os cremes, funcionam?
Quem não está disposto a encarar o bisturi nem as agulhas pode apostar em cremes, loções e séruns. Além de mais baratos, são capazes de evitar danos, hidratar e combater a flacidez.
Para prevenir rugas
Sol, poluição e luzes artificiais são alguns dos fatores que contribuem para que haja danos oxidantes da pele. Para combater os famosos radicais livres, a melhor escolha é apostar nos produtos antioxidantes. Entram nesse rol os cremes ricos em vitamina C, vitamina E, ácido ferúlico (que também ajuda a reduzir manchas), resveratrol e tocoferil. Produtos à base dessas substâncias podem ser encontradas no mercado ou manipulados. De acordo com a dermatologista Fabiane Lorenzini, do Hospital Moinhos de Vento, a preocupação com uso destes componentes deve começar por volta dos 20 anos, quando ainda se trabalha para evitar a formação de rugas.
Para hidratar
Ácido hialurônico e proxylani são algumas das substâncias que garantem a hidratação da pele.
– O ácido hialurônico não apaga as rugas, mas traz mais água para a superfície, o que provoca a sensação de pele esticada – explica Fabiane.
O proxylani é um ativo que estimula as glicosaminoglicanas, ou seja, melhora a elasticidade da pele e restaura a hidratação.
Prevenção pode vir do prato
Filtro solar, cremes e alguns procedimentos são a combinação perfeita para manter a aparência em dia. Mas a alimentação também exerce um papel de extrema importância na prevenção do envelhecimento e na manutenção da saúde do corpo.
– Nos últimos anos, as pesquisas têm demonstrado que nutrientes e compostos têm a capacidade de prevenir e diminuir os sinais do envelhecimento. Essas substâncias agem como cosméticos que atuam de dentro para fora – explica a presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição em Estética, Aline Schneider.
Ela sugere que os cuidados comecem o quanto antes, mas a partir dos 30 anos é preciso intensificá-los.
É fundamental que a ingestão desses alimentos ocorra de forma cotidiana para que, em até dois meses, sejam percebidos os primeiros resultados. Com a dieta certa, é possível melhorar a hidratação da pele e do corpo, prevenir os danos do tempo e até proteger-se do sol. Um exemplo são os produtos ricos em betacaroteno. De acordo com Aline, o seu consumo tem o poder de proteger a pele como se fosse um filtro fator 4:
– Pode parecer pouco, mas considerando que a pessoa está sem protetor solar, já é alguma coisa.
Além do cuidado na hora de escolher o que colocar no prato, é interessante ficar atento à quantidade de comida ingerida afinal, quanto maior a ingestão calórica, mais trabalho daremos ao corpo, exigindo mais das células e dos órgãos. Isso explica o fato de que obesos tendem a sofrer mais com o envelhecimento precoce.
– Apesar disso, não há nada de concreto que diga que jejuar faça com que o corpo funcione melhor – diz a especialista.
Reduzir o consumo de açúcar também pode refletir na pele. A substância aumenta a produção de radicais livres, que provocam a oxidação das células.
Confira abaixo alguns alimentos que podem ajudar a conservar as células jovens.