Uma das bebidas favoritas dos gaúchos, o chimarrão voltou a ser alvo de discussões sobre seus efeitos positivos e negativos no organismo. Nesta quarta-feira, a agência especializada em pesquisas de câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que há relação do consumo da bebida com o desenvolvimento de câncer de esôfago. A avaliação sobre o potencial cancerígeno do consumo de café, mate e bebidas muito quentes foi publicada na revista científica The Lancet Oncology.
A causa não seria a erva, mas a temperatura da bebida. A entidade fez questão de explicar que, até determinada temperatura, chimarrão, café e chá não têm efeito cancerígeno.
– O consumo de bebidas muito quentes é uma causa provável de câncer de esôfago e é a temperatura, não a bebida em si, que parece ser a causa – disse Christopher Wild, diretor da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês), ao apresentar o estudo realizado por um comitê de 23 especialistas.
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As bebidas "muito quentes" são aquelas consumidas a temperaturas superiores a 65ºC, segundo a IARC. Estudos realizados na China, no Irã e na Turquia, e, no caso do mate, na Argentina, no Brasil, no Paraguai e no Uruguai, onde as infusões geralmente são ingeridas a pelo menos 70ºC, demonstraram que o risco de câncer aumenta com a temperatura da bebida, destaca a agência da OMS.
– Esse é mais um alerta do que uma conclusão definitiva. Existem duas causas estabelecidas e comprovadas que podem causar câncer de esôfago: cigarro e álcool. A bebida quente é um adicional – afirma oncologista Rui Fernando Weschenfelder, médico do Hospital Moinhos de Vento.
O câncer de esôfago é a oitava causa mais comum de câncer no mundo e responsável por 5% de todas as mortes por câncer, segundo dados da OMS. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, o câncer de esôfago é o sexto mais frequente entre homens e o 13º entre as mulheres. Segundo o órgão, a estimativa é de que o país registre mais de 10 mil novos casos da doença em 2016. No último levantamento feito pelo Inca, 7.930 pessoas morreram devido ao câncer de esôfago em 2013.
Embora no Rio Grande do Sul a doença seja o 10º tipo de câncer mais frequente, é o Estado brasileiro com maior incidência do problema. Ainda assim, todos os dias, Weschenfelder prepara seu chimarrão e toma cerca de três cuias. Para ele, embora não comprovado cientificamente, essa seria a quantidade ideal.
O ponto-chave da polêmica é que diferentes estudos clínicos concluíram que quando uma bebida passa dessa temperatura, pode causar uma lesão térmica no esôfago. Uma célula machucada pelo calor pode, então, se transformar em uma célula cancerígena. O risco é potencializado se a pessoa que costuma tomar bebidas quentes tem pré-disposição à desenvolver a doença ou se submete a hábitos ruins, como o tabagismo.
– Eu não meço com termômetro a temperatura da água que utilizo no mate, mas o chiado da chaleira indica que a água chegou a 60ºC. Até eu colocar na térmica, a temperatura já caiu – relata.
Para o diretor-executivo do Instituto Escola do Chimarrão, Pedro Schwengber, medir a temperatura tem de se tornar parte do preparo da bebida. Só sabendo a quantos graus anda a água é que se garante que a bebida será saborosa, que a erva não será queimada e, principalmente, que o organismo estará protegido.
– Fazer chimarrão ser termômetro é como dirigir sem velocímetro. O mate é uma bebida benéfica à saúde, é preciso saber fazer. A água não pode passar de 70ºC. Quando é transportada para a térmica, a temperatura já deve estar em torno de 55ºC – afirma.
Com informações da AFP.