Não me canso de compartilhar o que descubro na Serra Gaúcha. Esta coluna poderia até se chamar Na Folga na Serra que eu teria assunto para várias edições. Pois bem, há poucos meses, conheci aquela casa de avó do Interior que mesmo quem não teve uma na infância pelo menos fantasiou em ter (eu!). Já ouviu falar da Osteria della Colombina?
Para contar sobre a Osteria de Odete Bettú Lazzari, primeiro preciso apresentar a Estrada do Sabor, uma rota totalmente rural entre Garibaldi e o Vale dos Vinhedos (criada por volta de 2001). No roteiro a ser percorrido de carro, paisagens exuberantes descortinam a história de cinco ou mais famílias italianas que recebem os visitantes em suas casas oferecendo produtos artesanais e muito sabor. Tudo é muito simples, porém, desconcertante. Meu primeiro contato com a Estrada do Sabor foi na casa de Jorge Mariani. Agendei uma volta de trator percorrendo seus parreirais. O nosso atraso vergonhoso nos fez perder o passeio. Aviso que nessa rota é preciso respeitar o horário e pré-agendar visitas e refeições como a da Osteria! Mesmo sem dar um giro de trator, degustamos os produtos, ouvimos o discurso lindo de amor à terra e acompanhamos a produção totalmente orgânica de sucos e vinho da família Mariani que faz parte da Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi (Coopeg).
Se dirigir pela Estrada do Sabor já é um programão, o prato principal da rota é chegar até a alegre e florida casa verde menta de Odete Bettú na Osteria della Colombina. Enquanto se aguarda o almoço no porão antigo, comensais curtem o jardim, e as crianças correm e brincam no balanço feito de pneu pendurado na árvore.
O empreendimento pioneiro na rota surgiu quando Odete se viu viúva e mãe de quatro filhas, responsável pela renda da família. Isso aconteceu há mais ou menos 15 anos. De lá para cá, a matriarca conquistou vários diplomas de gastronomia (todos expostos no restaurante), suas filhas se formaram e suas receitas italianas ficaram famosas. O conceito da Osteria é totalmente slow food, ou seja, não dá para ter pressa para comer, até porque se come também com os olhos, já que o porão onde é servido o banquete é um museu de lembranças com fotos antigas da família e relíquias de outros tempos como ferramentas, louças, entre outros tesouros.
A filha Raissa é quem anuncia quando todos devem sentar à mesa. É servida uma sequência de pratos italianos com entradas, sopa de agnolini, salada da horta, massas e carnes. Junto aos pratos, ouve-se uma série de suspiros. A mesa das sobremesas coloniais chega para dar o toque de conforto final.
Fiz questão de subir até a cozinha (profissional e impecável, por sinal) para conhecer e abraçar Odete. Ela me apresentou suas famosas pombas em massas de pão (as colombinas) que deram o nome à osteria. Ao término da refeição, os clientes recebem como mimo o pão quentinho no formato da pomba. Volta e meia, a simpática Odete oferece a oficina Mãos na Massa, na qual adultos e crianças podem aprender a confeccionar a colombina, tradição italiana tão bem preservada por ela e carregada de sentimentos.
O almoço na Osteria della Colombina custa por volta de R$ 55 por pessoa e o local não aceita cartões de crédito. O ideal é ir com uma turma de amigos e reservar por telefone. É fácil se sentir em casa, se apaixonar. Uma estrada de sabor com temperos de superação, família e muito carinho.