Quem cumpre esse papel? Fui cuidada pela minha mãe e pela minha avó, minha nona, que morava conosco. Meu pai não se envolvia muito nas tarefas domésticas.
Hoje em dia, meus pais, já com 84 anos cada um, apesar de sadios, precisam de atenção. Tenho três filhos adolescentes e divido os cuidados deles com meu marido que, aliás, adora cozinhar. Ok, não sou um exemplo de mãe à beira do fogão.
Hora de ser mãe dos filhos e hora de ser mãe dos pais. Hora de pais ou filhos fazerem o papel de cuidadores, inclusive dos cuidados maternos. Quero falar do incentivo à boa alimentação.
Quando eu era pequena, ensinaram-me a comer de tudo, frutas, legumes, sopas, carnes, arroz, feijão etc. Lembro que, às vezes, eu torcia o nariz, mas o argumento era de que eu precisava provar de tudo, até para saber se eu gostava ou não. Acho que isso fez com que eu me familiarizasse com diversos sabores, inclusive doces. Sabem como é, família de descendentes de italianos e alemães.
Apesar de sempre viver em Porto Alegre, tínhamos parentes e amigos com casas no Interior e até em fazendas. Tomei leite tirado da vaca na hora do café da manhã, colhi fruta no pé, busquei ovo em galinheiro. Para mim, o ovo não nascia na caixinha do supermercado.
Esse foi o jeito natural pelo qual fui apresentada a todos os alimentos. Muita comida de verdade. Mãe, pai, vó, tios e tias fizeram parte desse cenário de cuidados alimentares, mesmo que não fosse o mais adequado. Talvez meus tios que produziam linguiças discordem de mim. Meu senso crítico veio com a maturidade, com as informações, e muito com a responsabilidade de alimentar minha família. Precisava ensinar aos filhos a importância de eles se alimentarem bem. Após a oferta variada, seguimos dando exemplo. Agora, quase adultos, vão seguir o que lhes couber.
Minha preocupação é com aquelas crianças que nunca tiveram a oportunidade de conhecer esse universo, seja por falta de condições ou porque a família nunca proporcionou. Algumas famílias, sem recursos financeiros para comprar guloseimas e que seguem preparando a comida trivial e seu bolinho feito em casa, estão infinitamente em vantagem em relação àquela outra que pode proporcionar todos os biscoitos, salgadinhos, refrigerantes e comidas prontas que vendem por aí. A questão não é socioeconômica.
Tem muita criança e muito adolescente que não conhecem as frutas e os legumes de que dispomos em uma feira, nunca provaram ou nunca viram. Que qualidade tem essa alimentação? Quem cuida dessas pessoas? Crianças que ficam dias sem comer uma fruta. O que esperar? Não importa quem, mas alguém tem de fazer esse papel! Avós? Tios? Com o passar do tempo, percebemos que qualquer pessoa que possa contribuir é bem-vinda. Influência de amigos, da escola etc.
Atualmente, acumulei outro papel: cuidar da alimentação dos pais. Dar dicas, orientar compras, observar prazo de validade e conservação dos alimentos, estimular o consumo mais saudável possível. Tudo isso faz parte do papel dos cuidadores.
Não importa quem cuida de quem, mas cuide.