As clínicas particulares de Porto Alegre não têm e nem devem mais ter vacinas contra gripe neste ano. Em levantamento realizado na terça-feira por ZH, nenhum dos 12 locais consultados tinha doses para pessoas com mais de três anos, e a expectativa é de que não haja reposição dos laboratórios.
Como a procura por imunização foi acima da demanda projetada para este ano pelos laboratórios que fabricam a vacina, os estoques baixaram em uma velocidade muito maior do que a sua capacidade de produção. Um dos motivos da alta procura foi o aumento no número de mortes e a incidência dos casos de gripe A mais cedo no país.
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– Considerando todos os produtores, em média, deve ter chegado ao Brasil cerca de 3 milhões de doses. Como no início de março houve um surto em São Paulo, houve uma drenagem de estoque para lá – explica o representante da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) no Rio Grande do Sul e sócio de uma clínica particular da Capital, Ricardo Feijó.
Segundo o especialista, os laboratórios que produzem as vacinas levam dois aspectos em conta na hora de fechar o cálculo da quantidade de doses a serem feitas: o comportamento da demanda no Hemisfério Norte e a procura no próprio país no ano anterior. Se considerarmos só o Rio Grande do Sul, é possível observar que houve apenas nove óbitos por Influenza em 2015, número que não gerou pânico na população. Em 2016, o número já é quatro vezes maior, de acordo com o último boletim epidemiológico, divulgado na sexta-feira.
Outro ponto importante é que o tempo de produção é lento e o custo de cada vacina é muito alto, o que explica por que os laboratórios não fabricam o produto com uma margem maior do que foi estipulado antecipadamente.
– A vacina é baseada na proteína do ovo da galinha. Para cada tipo de vírus, é necessário um ovo embrionário. Precisa-se de milhões de ovos, assim, não se consegue gerar um novo lote de uma hora para outra – destaca Feijó.
Apesar dos relatos de falta de vacinas na rede privada, a presidente da SBIm, Isabella Ballalai, afirmou que não tinha informação sobre o assunto. Para esclarecer os estoques vazios, ZH entrou em contato com os quatro laboratórios que fornecem vacinas contra Influenza para o mercado brasileiro e todos afirmam não ter previsão de fabricação de novas remessas. Veja o que eles dizem:
Sanofi Pasteur
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o laboratório afirma que atendeu todas as solicitações feitas pelas clínicas de vacinação antecipadamente e "como uma empresa comprometida com a saúde pública, empreendeu todos os esforços para responder à demanda brasileira e conseguiu antecipar a entrega dos lotes de vacina. Desde o final de março, está fornecendo para todo o Brasil a vacina contra gripe trivalente. Também antecipou em cerca de três semanas a entrega da vacina quadrivalente, que começou a ser distribuída em 11 de abril, sendo que, neste ano, na comparação com 2015, o número de doses da vacina quadrivalente disponível dobrou".
GSK
Em nota enviada por sua assessoria de comunicação, a GSK diz que a campanha superou todas as expectativas de consumo previstas e que todas as doses produzidas já foram distribuídas.
"Além disso, a demanda atual por Fluarix® Tetra (a versão tetravalente da vacina) cresceu de maneira inesperada, causando um desequilíbrio entre demanda real e o cálculo de demanda do mercado em 2016. Importante ressaltar que a capacidade de abastecimento é coberta por diferentes laboratórios no Brasil".
Novartis
Por meio de sua assessoria de imprensa, o laboratório, que produz as doses na Europa, diz que cumpre a demanda solicitada por cada país. Neste ano, a Novartis já cumpriu o calendário de entrega conforme planejado antecipadamente. Como há um escalonamento da produção, não há como enviar novas doses para o Brasil. Também não é possível realocar doses que seriam enviadas para outros países sem surto em função do cumprimento de uma série de requisitos legais que atrasariam o processo.
Abbott
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o laboratório diz que comercializa a vacina trivalente no Brasil e que se baseou na demanda de 2015.
"Neste ano, a Abbott, preocupada com o bem-estar da população, foi a primeira empresa a trazer a vacina ao Brasil para atender a demanda crescente, e forneceu todo o seu estoque disponível no país para seus clientes (distribuidores farmacêuticos, hospitais, clínicas e empresas). Infelizmente, não é possível trazer mais unidades para o Brasil no curto prazo, pois o processo de fabricação leva um longo tempo, e as vacinas existentes já foram comprometidas com outros países do hemisfério sul".