Uma doença viral que remete à infância vem chamando a atenção dos porto-alegrenses. E não é por sua gravidade, mas sim pela quantidade de casos notificados. De janeiro até agora, a Capital já registrou 65 casos de caxumba, contra 154 em todo 2015. Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde. A notícia de que, apenas no time do Grêmio, três jogadores foram afastados em função da enfermidade, levantou dúvidas sobre a propagação da doença.
Ainda que não seja possível concluir o que motivou o aumento no número de casos, duas hipóteses devem ser consideradas: uma é a falta de imunização na infância e a outra é a durabilidade da vacina.
Conversa ao vivo
Nesta quarta-feira, a partir do meio-dia, o infectologia Juarez Cunha participará de uma conversa ao vivo na página de ZH no Facebook. O especialista responderá as principais dúvidas dos leitores sobre caxumba. Acesse facebook.com/zerohora e participe.
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– Esperamos que haja boa cobertura vacinal. A gente tem dúvida se as pessoas fizeram as duas doses da vacina que são preconizadas atualmente. Segundo, há um problema com relação à vacina em si. Parece que ela não dá cobertura para a vida inteira, e a proteção cai com o passar dos anos, por isso temos visto casos em adolescentes e jovens. Talvez eles tenham feito na infância, mas a proteção foi perdida – avalia o coordenador da Equipe de Vigilância em Doenças Transmissíveis da Secretaria Municipal da Saúde, Benjamin Roitman.
O chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Paulo Behar, também sugere que a grande circulação de pessoas por diversos lugares do país e do mundo, mais do que em anos anteriores, possa ter contribuído para esse aumento, afinal, cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, e países como Estados Unidos e outros da Europa também apresentam surtos de caxumba.
Diferente da gripe A e da dengue, que podem levar à morte, a caxumba não é considerada uma doença perigosa. Contudo, em raríssimos casos, pode evoluir para uma meningite leve e inflamação nos órgãos reprodutores:
– Pode causar orquite nos homens, que é inflamação dos testículos, e na mulher, ooforite, que é inflamação dos ovários.
Ainda de acordo com Behar, a doença também pode inflamar o pâncreas.
– Mas depois tudo volta ao normal. É considerada uma doença benigna, que não deixa sequelas – garante.
Prevenida por meio de uma dose da vacina tríplice viral, administrada aos 12 meses, e uma segunda da tetra viral, aos 15 meses, a imunização pode e deve ser feita por jovens e adultos quando há registros de surto. Diante dessa situação, Roitman orienta que as instituições que tiverem surtos informem a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde para que sejam feitas as notificações e para que órgão disponibilize as doses da vacina. A pessoa fica efetivamente protegida depois de aproximadamente 15 dias após a aplicação, que é gratuita na rede pública de saúde.
Apesar da vacinação da infância, os especialistas concordam que, ao longo dos anos, a vacina possa perder a sua eficiência.
Doença não tem tratamento específico
Na manhã desta terça-feira, o coordenador da Vigilância de Porto Alegre entraria em contato com o Grêmio, que três teve casos da doença dentro do plantel oficial. Conforme Roitman, o clube não notificou as ocorrências, o que é fundamental em casos de surto para que seja providenciada a vacinação das demais pessoas. Depois da sinalização, Porto Alegre passará a ter 68 notificações.
O surto na equipe Tricolor começou depois do jogo contra o San Lorenzo, em Buenos Aires, quando Luan apresentou o quadro. Na última sexta-feira, foi a vez do atacante Henrique Almeida ter o diagnóstico para caxumba. Ramiro foi o último a se afastar em função da doença, que pode acometer mais jogadores:
– O período de incubação é de 10 a 15 dias. Tivemos o Ramiro com a manifestação agora. Alguns podem já ter pego de outros e vir a se manifestar nesta semana. Mesmo após o caso do Luan, a vacina não teria impedido (a transmissão) – disse o médico do Grêmio Márcio Bolzoni em coletiva de imprensa nesta segunda. O clube está buscando informações com especialistas para avaliar o melhor momento para imunizar os demais integrantes do grupo.
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Sem tratamento específico para curar a caxumba, Behar indica que pessoas com o diagnóstico para a doença fiquem em repouso e aumentem a ingestão de líquidos. Os pacientes podem usar analgésicos para aliviar as dores.