Mesmo sendo gaúcha, até este ano nunca tinha colocado os pés nos grandiosos cânions na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A região é a nossa versão do Grand Canyon norte-americano. Sonhava em ver de perto e mostrar aos meus filhos aquelas imagens imponentes da natureza, habitués de programas de televisão que adoramos como o Globo Repórter. Com 13 e nove anos recém-feitos, considerei que já estavam prontos para caminhadas de até seis quilômetros. Então, vambora!
Era férias de verão e, por isso, partimos cedo de Garopaba rumo à Praia Grande (SC). A experiência me deu a certeza de não recomendar a subida pela estrada da Serra Faxinal que vai até Cambará do Sul (RS). Grande parte é de chão batido e tem trechos perigosos. Prefira o caminho asfaltado e belíssimo da Rota do Sol (que liga o Litoral Norte do Estado à Serra) ou, a partir de Porto Alegre, via Taquara.
Passado o susto da estrada, chegamos ao céu, literalmente. No topo do cânion mais famoso, o Itaimbezinho, fazia muito calor. Ainda bem que viemos prevenidos com repelente e água na mochila, pois, no local, não há nem lancheria. A sorte apontava em nossa direção com uma visibilidade perfeita. As duas trilhas do Itaimbezinho são relativamente tranquilas e sinalizadas: do Vértice (a mais fácil e com visual da cascata) e a do Cotovelo, que permite um visual amplo e de tirar o fôlego.
Ao término da expedição, estávamos famintos. O único restaurante que encontramos aberto na estrada (após as 14h30min) foi o Bolicho Guabiroba, uma agradável descoberta que serve comida caseira, além de cervejas artesanais, incluindo a da casa. Outra surpresa gastronômica foi a refeição do dia seguinte, um verdadeiro deleite para os olhos e o paladar, no restaurante do hotel Parador Casa da Montanha. Diante de um cenário ímpar, é servido um almoço campeiro com churrasco de fogo de chão.
E, se de dia chegamos perto do céu, o entardecer foi de estrelas. Nos hospedamos nas novas barracas suítes térmicas do Parador (que comportam bem a família) com varanda emoldurando o campo, a mata de araucária e o Rio Camarinhas. A propriedade mescla rusticidade, sustentabilidade e conforto.
No segundo dia, fomos apreciar o mirante do cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, a 23 quilômetros de Cambará. Dessa vez, para não danificar o nosso carro, a bordo de uma Land Rover 4x4 da empresa Coiote Adventure, o que acentuou o clima de aventura. Graças ao Rony, nosso guia, que no fez acelerar o passo pois sabia que em pouco tempo as nuvens poderiam tomar conta do cenário, tivemos memoráveis cinco minutos de visibilidade antes que tudo ficasse branquinho.
Foi um fim de semana curto para explorar essa terra de gigantes, casa do maior conjunto de cânions da América do Sul e de inúmeras outras atividades de ecoturismo. Mas, como moramos perto (e agora já sei o caminho!), nos resta a esperança de voltar logo. É certo que o clima e a falta de estrutura dos parques podem atrapalhar o passeio.
Mesmo com tantas pedras no caminho, a natureza segue fazendo o convite irrecusável, sussurrando com o vento no seu ouvido: suba a Serra, visite os cânions!
Dica: abril é um dos meses mais indicados para visitar o Parque Nacional do Aparados da Serra. O calor, as chuvas e a neblina freqüentes do verão dão lugar a dias mais limpos e com temperatura agradável, sem o frio intenso do inverno.