É uma questão de tempo para que o zika vírus tenha casos registrados em todo o país. A afirmação é do ministro da Saúde, Marcelo Castro, feita horas depois de ter divulgado um novo boletim de casos suspeitos de microcefalia. Na terça-feira pela manhã, em uma coletiva realizada em Brasília, Castro apresentou que o Brasil já soma 1.761 registros de bebês nascidos em 2015 com a má-formação em 14 Estados, que pode estar relacionada à infecção das mães, durante a gravidez, por zika. No mesmo dia, enquanto lançava campanha de combate ao mosquito no Rio de Janeiro, o ministro disse que concordava com as tendências apontadas por especialistas de que casos de zika e microcefalia vão se espalhar por quase todos os Estados. Será o clima, segundo o responsável pela pasta, que poderá afastar a doença do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
- Os cientistas são unânimes em afirmar que (o surto) se espalhará para os demais Estados, dificilmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por causa do clima. É uma situação extremamente grave. Entendo que este é o problema número 1 que o Brasil tem hoje. E tem de ser atacado com todas as forças, porque são vidas humanas que estão em jogo - disse o ministro.
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Para Lavínia Faccini, médica geneticista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e uma das especialistas envolvidas na elaboração do Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika do governo federal, o ministro foi muito otimista ao colocar os dois Estados na lista dos imunes ao zika e à microcefalia.
- Não deve ser considerada uma situação que a gente fique tranquilo e despreocupado. Nada impede que, se não tomarmos os cuidados necessários, haja proliferação do mosquito e a transmissão do zika - alerta, lembrando que o Rio Grande do Sul ainda não registrou nenhum caso autóctone (contraído dentro do Estado) de zika e nem de microcefalia relacionada à contaminação.
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Paulo Behar, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia da Capital, também não acredita que os dois Estados saiam imunes ao surto observado nas outras regiões:
- Não dá para apostar. O RS é pouco ou parcialmente privilegiado para casos de dengue, chikungunya e zika, mas afirmar que não há risco não tem base científica.
Segundo o especialista, questões climáticas e geográficas colaboram para que estas doenças, consideradas tropicais, demorem para chegar até aqui. O Aedes aegypti se reproduz muito menos em climas subtropicais, o que reduz o risco de circulação dos vírus. Entretanto, a expectativa de um verão com chuvas acima da média deixa as autoridades cada vez mais atentas para a chegada de possíveis casos importados de zika.
- Estamos trabalhando com a hipótese de que vamos ser afetados. A possibilidade do vírus vir para o Estado é concreta. Muito também por causa das viagens de final do ano para regiões que vivem com a epidemia. Talvez o problema não seja de grande magnitude. Trabalhamos para evitar casos e para que eles sejam poucos, não um surto - diz Marilina Bercini, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde.
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Para reduzir riscos e protelar a chegada do vírus no RS, o governo coloca todas as suas forças no combate ao transmissor das doenças, que hoje já está presente em 168 municípios gaúchos. Ontem, as secretarias Estadual e municipais da Saúde dos locais infestados pelo mosquito estão reunidas para discutir medidas de extermínio ao Aedes aegypti.
Só neste ano, o Estado registrou 1.283 casos confirmados de dengue. Conforme boletim epidemiológico do governo estadual, com dados coletados até o último dia 5, 1.039 dessas ocorrências se referem a casos autóctones. Caibaté, Santo Ângelo, Panambi e Erval Seco, na Região Noroeste, foram os municípios que mais notificaram esse tipo de caso.
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