Caderno Vida estreia série de reportagens sobre os transtornos mais comuns da infância e da adolescência. Na edição desta semana, o tema é a bipolaridade. Leia o relato da mãe de um menino que sofre com o transtorno:
"Felipe* sempre foi um menino muito afetivo. Desde que ele nasceu, notei que era bem agitado. Às vezes, debatia-se na cama e falava durante a noite, mas era inteligente, rápido e esperto. Foi a partir dos cinco anos que comecei a notar alguns comportamentos estranhos. O Felipe passou a ficar muito agressivo, não aceitava um 'não', e atirava na gente tudo o que tinha na mão. Comecei a ser chamada na escola pelo comportamento dele, que estava prejudicando seu relacionamento com os colegas. Mas eram situações passageiras, que logo se normalizavam. Ele tinha amigos no colégio e conseguia acompanhar as aulas. Em algumas semanas, eu notava que ele ficava muito triste, sem querer sair do quarto. Em outras, se agitava, falava muito, queria sair para a rua, comprar coisas. Ficava mais irritado e impaciente. Durante anos, eu sentia que tinha algo de diferente com ele, mas não sabia o que era. O Felipe também sempre foi comilão, acho que porque é muito ansioso. A situação se agravou quando o pai dele, que agora tem outra família, comunicou que havia tido uma filha. O Felipe chorou muito, ficou dias deprimido, sem querer sair do quarto, perguntando-se o que tinha de errado com ele, sem vontade de se mexer nem de tomar banho. Mas de uma hora para outra mudou, quis sair, jogar videogame, comprar coisas que eu nem tinha como dar. Durante os últimos seis anos, levei-o a diferentes especialistas para identificar o que tinha. Uma das coisas que me chamam a atenção é a dificuldade dele em lidar com brigas entre adultos. Lembro de um episódio em que eu discutia com minha mãe, e o Felipe foi até a cozinha, pegou uma faca e ficou com ela apontada para nós. Ele parece que não sabe o que fazer com a raiva que tem dentro. Nem com a tristeza. Calmamente, peguei a faca de volta e guardei, sem que ele resistisse. Há dois anos, o Felipe foi diagnosticado com transtorno bipolar. Desde então, começou um tratamento específico e está melhorando, mas ainda apresenta algumas mudanças de humor bruscas e certas dificuldades na escola. No último relatório do colégio, professores indicaram que ele começou o ano tranquilo e participativo, mas, em alguns momentos, fica mais inquieto e irritado. Ele está com dificuldade para ler e fica triste por isso. Começa a chorar muito e diz que só quer ser um menino normal."
Conheça os sinais da bipolaridade infantil, tratamentos e saiba o que fazer
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*A pedido da família, o nome é fictício.
*Zero Hora