Rei significa "universal" e ki, "energia". Juntos, os caracteres japoneses dão nome a uma prática secular de tratamento por meio das mãos. Baseado em uma crença oriental, o reiki tem ganhado espaço também no mundo ocidental. Ao longo dos últimos anos, vem sendo praticado como terapia complementar em clínicas e hospitais dentro e fora do Brasil. Apostando na ideia de que a transmissão de energia para o corpo por meio da imposição das mãos sobre determinadas partes do organismo é uma forma de tratar diversas doenças, a terapia é cotada para reduzir ansiedade, fadiga, dores crônicas e até como coadjuvante em tratamentos contra o câncer. Ela é considerada pelos seus praticantes como um tratamento holístico que traz alívio espiritual, mental, emocional e físico. Mas o que diz a ciência sobre esta prática?
Longe de um consenso - e por muito tempo relegado à mística e à religião -, o reiki hoje divide opiniões no universo científico. Enquanto há pesquisadores a defender os benefícios, outros destacam a falta de estudos que comprovem, fisiologicamente, seus resultados.
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A prática e a ciência
Um dos mais recentes estudos sobre o tema teve seus resultados apresentados na Conferência da Sociedade Britânica de Oncologia Psicossocial, em março deste ano, na Inglaterra, e chamou a atenção de médicos e outros profissionais da saúde. Durante um ano, pesquisadores da Universidade de Huddersfield, no Reino Unido, entrevistaram mulheres com câncer que receberam sessões de reiki como forma de tratamento complementar. Entre os benefícios avaliados, foram destacados resultados significativos de relaxamento corporal, melhora na qualidade do sono e redução da pressão arterial.
- Os participantes descreveram sentimentos de paz interior. O reiki também foi associado a benefícios físicos, incluindo alívio da dor e redução dos sintomas da doença, e cognitivos, tais como sentimento de esperança e melhora da autoconfiança - explica a pesquisadora Serena McCluskey, que comandou o estudo.
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Em outra análise, da Universidade de Granada, na Espanha, cientistas concluíram que uma única sessão já produzia melhoras imediatas em enfermeiras que sofriam de síndrome de burnout, um tipo de esgotamento associado ao desempenho profissional. Como principal conclusão do estudo, publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem, está indicada a redução na pressão arterial das profissionais.
- Observamos que o reiki afeta os fluxos de energia no corpo. Entretanto, ainda é limitada a quantidade de pesquisas científicas sobre o tema - pondera McCluskey.
As teorias mais pesquisadas
As hipóteses mais estudadas sobre os efeitos do reiki no corpo humano mencionam energias magnéticas, elétricas e eletromagnéticas, que seriam transmitidas durante uma sessão. Conforme o biólogo e pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ricardo Monezi, acredita-se que um terapeuta consiga canalizar um tipo de energia - de natureza ainda não compreendida pela física atual - e transmiti-la para o paciente na sessão:
- Existem muitas teorias exploradas, e a mais aceita hoje é que esta energia estaria enquadrada dentro dos espectros eletromagnéticos de baixa frequência, próximos aos raios infravermelhos. A hipótese é sustentada por relatos de pacientes, que reconhecem uma sensação de calor nos locais onde as mãos se aproximam, e por testes feitos em laboratório.
Na busca por comprovar as alterações biológicas que ocorrem no corpo, o pesquisador testou o tratamento em camundongos com câncer. No estudo, os animais foram divididos em três grupos. O primeiro recebeu o tratamento padrão de reiki pelas mãos de um terapeuta, o segundo recebeu a imposição de "falsas mãos" - estas compostas de um par de luvas preso a cabos de madeira -, e o terceiro não recebeu nenhum tipo de tratamento.
- Como muitas pessoas associam o reiki a questões religiosas e emocionais, o teste com animais mostrou um resultado livre dessas interferências - diz Monezi.
Como conclusão, o biólogo apontou que, somente no primeiro grupo, o sistema de defesa do corpo tinha dobrado sua capacidade de reconhecer e destruir as células cancerígenas.
Em um segundo estudo, Monezi testou cientificamente a técnica em humanos. Nestes casos, idosos com sintomas de estresse foram divididos em dois grupos. O primeiro, submetido a sessões de reiki, sofreu alterações psicofisiológicas e redução de estresse mais significativas que no de tratamento placebo.