Publicada domingo em Zero Hora, a reportagem Filho é para sempre, narrando a história de quatro mães que perderam seus filhos, provocou impacto e identificação entre os leitores. Nos espaços para comentários no site do jornal, nas redes sociais e em e-mails enviados à redação, mulheres aproveitaram a abordagem do tema para desabafar e também compartilhar suas histórias, criando uma rede de solidariedade.
Mães que perderam filhos contam como convivem com a ausência
Em entrevista, Camila Goytacaz explica: "Eu tinha de atravessar aquele deserto só meu"
Cristine Soares, 34 anos, enfrentou a morte de quatro filhos - dois ainda na gestação, Nathan, bebê de dois dias que não resistiu a uma malformação cardíaca, e Nathália, vítima de um acidente de automóvel, aos três anos, em outubro passado. Em um longo depoimento no Facebook, a produtora de eventos destacou: "A dor da saudade, essa nunca será amenizada, pois quem passou por isso sabe que 10 anos parecem 10 dias". Ela agora está na quinta gravidez - Luísa deve nascer até o início de julho.
- Me senti feliz por estarem abordando esse assunto. A maioria das mães se recolhe - diz Cristine.
Para a psicóloga Tagma Marina Schneider Donelli, professora da Unisinos, a possibilidade de externar a dor em um grupo de iguais é benéfica para quem passa por um episódio tão traumático.
- A perda de um filho é apontada como o evento de maior potencial estressor na vida de uma pessoa. Poder falar, compartilhar, ver que tem outras pessoas que já passaram por isso e estão vivendo, conseguindo retomar algumas coisas na vida, é um alento, uma esperança - comenta Tagma.
Depoimentos
"Não foi por acaso, foi o destino que me proporcionou a leitura dessas entrevistas na véspera do primeiro ano da morte de meu filho. Me emocionei às lágrimas ao ler a matéria 'Filho é para sempre', pois é uma frase que nos últimos 364 dias tenho dito muitas vezes. Eu não digo 'tive cinco filhos', eu digo 'tenho cinco filhos'. Um não está mais aqui mas continua MEU FILHO e sempre assim será. No coração da mãe o filho fica eternizado. Perdi Luís Felipe para um glioblastoma multiforme. Para uma mãe, ver um filho morrer um pouco a cada dia sem poder fazer nada é o maior suplício, a partida é uma dor indescritível, e as mães da reportagem relataram o vazio, a angústia, a falta de objetivo que fica. Tudo isto é verdade, nada pode substituir o filho que nos deixou."
Paula Simon Ribeiro, de Porto Alegre
"No próximo dia 12 de junho vai fazer 26 anos que perdi minha filha. Não a esqueço nunca, ela tinha 54 horas quando faleceu. Hoje tenho dois: um de 19 e outra de 13, os amo como o ar que respiro, mas não é a mesma coisa. Sei que está com anjos e Deus, mas não aceito a morte dela até hoje."
Marlene Dutra Dos Santos, de Bagé
"Dói!! Toda mulher sonha em ter filhos, mas em momento algum passa na cabeça que um dia pode vir a enterrar um filho. No meu caso sonhei muito, planejei e fui abençoada com duas lindas meninas. Minha Lívia partiu três dias depois... Eu pedia a Deus que trocasse ela de lugar comigo, porque já tinha vivido bastante e ela não. Posso dizer que é uma dor insuportável, não desejo a ninguém. O que me dá forças pra viver é minha Luísa, que precisa muito de mim."
Cassiane Fernanda Alves, de Porto Alegre
"Gostaria muito de poder compartilhar minha história também. Perdi meu bebê com 16 dias de vida. Essa com certeza é a maior dor que podemos sentir. Anos depois ainda choro, ainda sinto seu cheiro. Não posso mais vê-lo, mas ainda posso senti-lo por perto, principalmente quando estou triste, pois é um anjo agora, meu pequeno anjinho."
Claudineia Souza, de Canoas
"Dia 27 faz quatro meses que perdi minha filha. A dor que sinto é sem explicação. Dizem que com o tempo aprendemos a viver com a falta e a saudade, mas não acredito que uma mãe que perdeu um filho volte a ser feliz. A metade de mim foi com ela."
Elisangela Zamprogna, de Parobé
Alice, filha de Graziela: