Quando uma palavra é precedida pelo sufixo "des", logo me vem à cabeça deixar algo, perder, retroceder. Em relação à palavra "desescolarização", que tenho ouvido bastante ultimamente, não é diferente. Aliás, ouço isso com um misto de assombração e perplexidade.
A desescolarização, o ensino domiciliar ou o homeschooling (como alguns chamam, talvez porque o que é estrangeiro é mais bem aceito) nada mais é do que a prática de dispensar a escola formal e ter o ensino desenvolvido pela família, em casa. Os adeptos dessa prática defendem que as escolas selecionam mal seus conteúdos, não respeitam as singularidades de cada criança e colocam até mesmo o bullying como um sério empecilho à ida das crianças para uma instituição de ensino.
Então, fico imaginando todas as implicações (principalmente futuras) que essa decisão pode ter.
Uma família que decide deixar seu filho em casa, muitas delas alegando que lá cada indivíduo consegue criar seu próprio percurso curricular, ignora totalmente que a educação está longe de ser apenas a transmissão de conteúdos formais. A educação é um processo extremamente complexo e rico, que envolve interação, socialização, resolução de conflitos, saber lidar com a frustração, a convivência, e uma infinidade de outras situações que somente um grupo grande e heterogêneo pode proporcionar. O sistema de ensino está em crise? Está. Não se trabalha autonomia nem autoconfiança nem conteúdos realmente significativos? Em muitas escolas, não. Mas temos a possibilidade de buscar a que se encaixa melhor em nossas necessidades. E eu garanto que há escolas boas.
Além disso, quantos afetos envolvem uma família, quantas transferências acontecerão diante dessa nova modalidade de escolarização?
Por último, e não menos importante (aliás, pelo contrário!), saber lidar com a vida real é um aprendizado que só se faz saindo a campo. A vida real exige estágio e não teoria. E o estágio é o período escolar. É lá que aprendemos a lidar com o outro (que, na minha opinião, muitas vezes é o que de mais difícil há). Em algum momento, a realidade vai bater à porta dessas crianças também, mesmo que já sejam adultos. E o que pensam que vai acontecer? Que, por serem adultos, as emoções estarão trabalhadas como que num passe de mágica? Emoção se trabalha na prática. Não há outro jeito.
Temo pelo futuro. Em um mundo onde o egocentrismo, o egoísmo e o individualismo imperam, colocar crianças em redomas não me parece a decisão mais inteligente.