Marcos fará dois anos no próximo mês, e sua mãe diz estar preocupada. Ele parece muito diferente das outras crianças. Embora seja um menino inteligente, seu comportamento parece ser imprevisível. Ele é muito tímido e só quer brincar sozinho, parece ter seu mundinho particular. Pequenas mudanças na sua rotina provocam birras terríveis, sendo quase impossível acalmá-lo. Apesar de ser estimulado, não fala nada. A tia pensou até que ele não ouvia bem. Levado ao pediatra, o garoto foi encaminhado para um especialista por suspeita de dificuldades no desenvolvimento. A mãe está ansiosa, temendo pelo futuro de seu filho.
O dia 2 de abril foi definido pelas Nações Unidas como Dia Internacional de Conscientização do Autismo, com o objetivo de disseminar informações sobre o autismo infantil, hoje chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA), e a importância do diagnóstico e da intervenção precoce.
A doença é um transtorno neurológico que atinge o desenvolvimento infantil, comprometendo três principais áreas: interação social, comunicação e comportamento. São crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa. Apresentam muita dificuldade de comunicação. Quando se fala de espectro, significa que as dificuldades variam em intensidade - o comprometimento pode ser muito grave e estar associado à deficiência mental, ou tão leve que a pessoa com o transtorno consegue levar uma vida próxima do normal.
Os sintomas se iniciam no primeiro ano de vida em 25% dos casos, 50% no segundo ano e 25% a partir do terceiro. Dados epidemiológicos mundiais estimam que um a cada mil nascidos vivos apresenta TEA. Pesquisas americanas mais recentes chegam próximo de um em cem.
O espectro autista tem na sua etiologia uma base genética. Fatores ambientais e biológicos, como uso de álcool durante a gravidez e a prematuridade, podem ser gatilhos para que o indivíduo com a alteração genética desenvolva o problema. Nos primeiros anos de vida, ocorre a moldagem das estruturas cerebrais com a multiplicação de conexões entre os neurônios; as conexões menos usadas são podadas. Nas crianças com autismo, esse processo parece ser inadequado. A indicação de intervenção precoce baseia-se na plasticidade cerebral da criança em que, por meio de técnicas comportamentais, pode-se estimular outras vias neuronais alternativas. Na prática, atuar cedo traz 80% de chance de inclusão social que garante a autonomia.
O diagnóstico é essencialmente clínico. Leva em conta o comprometimento e o histórico da criança e norteia-se por critérios estabelecidos por meio de protocolos aplicados a partir de 18 meses. Alguns neurocientistas defendem o diagnóstico em bebês. Perceber as diferenças em uma criança pequena depende muito dos olhos de quem está observando e da gravidade do comprometimento.
Não existe tratamento padrão que possa ser utilizado. Cada criança exige acompanhamento individual, de acordo com suas necessidades e deficiências. Elas devem ser encaminhadas para especialistas e suas equipes multidisciplinares.