Meu professor de corrida e treinamento funcional é desses maluquinhos que a gente vê brilhar os olhos quando o assunto vem de lá, vai para cá e termina em ultramaratonas. Foi entre um papo e outro desses que eu fiquei curiosa em entender melhor o mundo dessas pessoas, o que as motiva.
Claro que não dá para ignorar que nosso corpo é comandado por muita química, que entra em campo quando o exercitamos com tamanha intensidade. Alguns ultramaratonistas realmente falam como se fossem viciados. Mas são raros os casos daqueles que partem para uma corrida de mais de 100 quilômetros sem tomar as devidas precauções.
O diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, o especialista Jomar Souza, nos ajuda a entender algumas reações do nosso corpo em uma prova desse tipo. Confira.
> Regulação da temperatura corporal: mesmo com uma estratégia de hidratação adequada, o centro de regulação da temperatura que se encontra na base do cérebro, chamado de hipotálamo, pode entrar em colapso, principalmente quando as provas são realizadas em ambientes quentes e úmidos. Isto pode gerar um grande aumento da temperatura corporal interna, o que causaria desde um desmaio com rápida recuperação até a morte, em casos extremos.
> Hidratação/desidratação: é necessário ingerir tanto líquidos quanto outros nutrientes como sódio, potássio, magnésio e carboidratos. Existem no mercado isotônicos que podem ser utilizados com esse objetivo.
> Alimentação e absorção dos alimentos: a absorção de alimentos sólidos fica prejudicada, pois boa parte do sangue que iria para o sistema digestivo trabalhar é direcionada para a musculatura e para a produção de suor. Os líquidos e os alimentos em gel são absorvidos mais rapidamente e, muitas vezes, são capazes de suprir a necessidade do atleta durante a prova.
> Fadiga muscular: está muito relacionada com o tipo de treinamento realizado, a alimentação pré-competição e a estratégia de hidratação. Se o atleta estiver bem orientado, a fadiga muscular extrema com quadros de câimbras poderá ser evitada.
> Fadiga mental: não está somente relacionada ao preparo psicológico. O cérebro fará de tudo para sua autopreservação. Assim, ele pode fazer com que a musculatura entre em colapso, forçando o atleta a abandonar a prova. Isso ocorre basicamente por meio de mensagens neuroquímicas que o cérebro envia para os músculos.