Em uma tarde de domingo, no centro médico da Universidade de Tennessee, nos Estados Unidos, uma criança de cinco anos chega carregada por médicos, com diversas escoriações no corpo e uma perna quebrada. Chorando muito, ela conta que havia se acidentado em um triciclo. Pedindo alívio para a dor - e aguardando a chegada dos pais ao local -, recebe a notícia de que não poderia ser medicada antes de realizar uma bateria de exames.
Prontamente, a psicoterapeuta brasileira Lina Schlachter começa a perguntar para a menina sobre coisas de que ela gosta. Realiza movimentos circulares no rosto da garota, pede para que ela feche os olhos e, por meio da conversa, leva sua imaginação ao encantador mundo de Harry Potter, onde ela estaria voando com uma vassoura sobre locais agradáveis, sentindo-se confiante e feliz. A criança começa a relaxar o rosto, diminui as feições de dor e para de chorar. Em poucos minutos, ela se diz tranquila e recebe os pais, que chegam logo depois, com um sorriso no rosto.
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A situação, que ocorreu em 2009, não causou estranhamento aos médicos, já acostumados ao procedimento. Lina submeteu a paciente a um estado hipnótico, método em que um especialista sugere mudanças nas sensações e percepções, alterando as capacidades sensoriais e motoras.
Já muito popular nos Estados Unidos e na Europa, a hipnose vem conquistando espaço também no Brasil. Nos últimos anos, passou a ser reconhecida como terapia auxiliar pelos conselhos de psicologia, medicina, odontologia e fisioterapia, e começou a ser praticada em hospitais e consultórios.
Doutora em psicologia pela Universidade de Tennessee, Lina relata que utilizou a técnica trabalhando na emergência de um hospital norte-americano, ajudando pessoas com traumas severos a se "distrair" da dor que sentiam.
- Os resultados costumam ser benéficos, mas isso depende da suscetibilidade de cada um à hipnose - explica a especialista.
Usada há milênios para diferentes finalidades, a técnica foi associada à magia e ao curandeirismo durante muito tempo e se tornou até atração de circo. Foi a partir do século 19 que a hipnose começou a ganhar popularidade no meio acadêmico, sendo fundamental para que Sigmund Freud elaborasse, por exemplo, sua teoria sobre o inconsciente.
Estudos científicos demonstraram a forma como a técnica atua no cérebro e, assim, ela passou a ser aceita e difundida como um tratamento complementar para diferentes finalidades, que vão desde a redução de dores crônicas ou agudas, transtorno do pânico, fobias e insônia, até sedação de dor em procedimentos dentários.