Com uma velocidade de cair o queixo de Usain Bolt, um meia do Real Madrid chamou a atenção do mundo no ano passado ao arrancar rumo ao gol do Barcelona na Copa do Rei. O galês Gareth Bale percorreu 59 metros em 7,2 segundos e não perdeu a chance no cara a cara com o goleiro.
O feito de Bale foi marcante, mas não são poucas as arrancadas que estão na memória dos torcedores e no histórico de outros jogadores. O que todos eles devem ter em comum? A corrida como treino complementar.
E não vale apenas para atletas do futebol. Escaladores, tenistas, surfistas e até mesmo lutadores conseguem melhores resultados ao incluir a corrida na rotina. No planejamento do treino, ela costuma ser lembrada por ter a vantagem de conseguir colocar o esportista rapidamente em forma e pela capacidade de fortalecimento do sistema cardiovascular - coração e pulmões trabalham melhor.
No caso do futebol, nem só de arranques são feitos os lances. Os jogadores precisam estar preparados para os passes rápidos - mas de baixa a moderada intensidade - em um longo período de tempo (90 minutos não é para qualquer um). Como a corrida também amplia a resistência e a velocidade de recuperação após um esforço intenso, mais uma vez ela é importante para quem entra em campo. Nesses casos, os treinos intervalados (trotes intercalados com tiros de maior velocidade) são responsáveis por aumentar a capacidade anaeróbica (para os arranques em velocidade) e aeróbica (essencial para exercício físico de longa duração).
Para os lutadores, além da corrida ser importante para o controle de peso, ela aprimora a capacidade de reação, com reflexos mais rápidos. Mas isso não é novidade desde o filme Rocky 2. Quem não lembra da famosa cena da maratona percorrida por Sylvester Stallone nas ruas da Filadélfia, nos treinos de rua intercalados com os de ringue?
Há dois anos, quando o caderno Vida fez uma reportagem sobre escalada, um grupo de praticantes entrevistado também citou a corrida como exercício complementar. Eu, que corro há um tempinho, ao tentar escalar pela primeira vez, de cara percebi algo que a pista pode ensinar aos escaladores: a "negociação" com o corpo, típica dos exercícios de longa duração. À vezes, parece que não vai dar para seguir adiante, mas é preciso concentrar para saber como lidar com essa "sabotagem" do corpo. Na escalada, a concentração também é importante para saber os próximos movimentos ou, quando um avanço não dá certo, por onde recomeçar.
A resistência é a consequência mais forte para os surfistas, que precisam remar atrás das ondas. Eles ganham igualmente em recuperação rápida, podendo buscar mais ondas em menos tempo. Mas, no caso deles, uma ressalva: não correr por longas distâncias e em superfícies duras, pois a postura na prancha já castiga lombar e cervical. Mas correr na areia pode.
As constantes mudanças de direção e de aceleração no tênis são outras boas consequências da corrida para os praticantes desse esporte, que nem sempre sabem quanto tempo vai realmente durar a partida.
Claro, não basta sair correndo por aí. Para cada atleta, a supervisão de um preparador físico vai indicar como fazer, para aprimorar a capacidade que mais for necessária, e determinar os períodos adequados de descanso. Se correr pode ser bom para muita gente, respeitar os dias de jogar as pernas para o ar são igualmente essenciais.