Não é exclusividade de Gandhi, Madre Teresa de Calcutá ou Mandela olhar para o próximo e reconhecer e respeitar seus sentimentos. Especialistas acreditam que 98% das pessoas nascem biologicamente preparadas para desenvolver empatia - conhecida como a capacidade de se colocar no lugar do outro.
Mas o filósofo australiano Roman Krznaric acredita que os níveis dessa habilidade têm declinado quase 50% nos últimos 40 anos. Autor do livro Empathy - A Handbook for Revolution (Empatia, um Livro para a Revolução, a ser lançado no Brasil em junho pela editora Zahar) - ele tem trabalhado em um projeto chamado Museu da Empatia, ideia criativa para reverter o quadro.
- Alguns autores vão postular que o próprio processo evolutivo favoreceu essa capacidade (de sermos empáticos), mas essa seria uma perspectiva enquanto espécie. Evidentemente que o meio no qual o indivíduo se desenvolve vai favorecer ou não o pleno desenvolvimento da empatia. Se você se desenvolve em um meio onde a visão egocêntrica é incentivada, as tendências (de desenvolver empatia) podem ser contrariadas - explica o professor do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Silvio José Lima Vasconcellos, a partir da afirmação de Krznaric.
Conheça seis hábitos-chave de pessoas altamente empáticas
Autor de O Bem, O Mal e As Ciências da Mente - Do que São Constituídos os Psicopatas (Cone Editora), Vasconcellos estuda o tema pelo viés da psicopatologia. Segundo ele, sabe-se que a ausência de empatia é uma das características mais definidoras do que seja um psicopata. Também sofrem com regulação de empatia os autistas e as pessoas com transtorno de borderline.
- Inicialmente, tinha a função de perpetuação da espécie, mas, hoje, ela tem funções sociais bem mais sofisticadas - diz a professora do programa de pós-graduação em Psicologia Social da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj), Eliane Mary de Oliveira Falcone.
- Prestei muita atenção em pessoas empáticas, nas suas ações e reações. Esse exercício, de identificar as emoções que ela está transmitindo quando fala, relacioná-las, é uma forma de começar a perceber as reações emocionais mais sutis - descobriu Eliane ao pesquisar um programa de treinamento da empatia em estudantes de diferentes cursos.
Na sutileza da expressão dessas emoções é que moram as manifestações mais sofisticadas de empatia, segundo a pesquisadora:
- Quando você entende as motivações de outra pessoa em uma situação de conflito, não é que você vai abrir mão de suas necessidades, mas você vai poder lidar melhor com a negociação.
Por isso, o termo tem se espalhado e aparece até mesmo no meio empresarial. O biológo Frans de Waal escreveu A Era da Empatia (Companhia das Letras) e estudou o tema sob o prisma da evolução.
- Ele faz uma crítica às grandes teorias econômicas do passado que se utilizaram da teoria de Darwin para justificar a importância da competição. O aspecto da generosidade virou uma coisa piegas. As empresas estão descobrindo que somente a competição é nociva para o próprio negócio - diz Eliane.
Por que é importante estimular essa habilidade?
Em casos de crianças agressivas e em escolas que querem prevenir casos de bullying, por exemplo, pode ser feito o que se chama de treinamento das habilidades sociais, explica Vasconcellos, como forma de fomentar reações empáticas. Programas de justiça restaurativa têm sido feitos nessas instituições.
O processo de aprendizado, segundo Eliane, não é fácil, mas a empatia precisa ser sempre estimulada:
- Se você faz um esforço nesse sentido e percebe que o retorno é positivo, aos poucos, descobrirá que, de fato, é melhor se conduzir dessa forma. Não é uma demagogia. É uma forma saudável das pessoas se relacionarem.