Nascemos do humano e é natural estarmos cercados por eles. Na infância, os primeiros contatos mais intensos ocorrem com familiares, constituindo nossa matriz primária afetiva. O carinho, o cuidado, o respeito, a disponibilidade e a receptividade recebidos, como também a negação de certos desejos e a imposição de limites por um ou mais membros dessa matriz farão com que cresçamos nos sentindo amados e valorizados.
Ao interagir com o grupo de idade próxima, estabelecemos laços de amizade, com muitos dos quais compartilharemos nossas vidas, enquanto outros seguirão caminhos distantes, mas continuarão próximos na nossa lembrança, se no passado possuíram significado especial. Como surpresas boas acontecem, vez ou outra, reencontramos nossos primeiros amigos. Os familiares e os amigos de infância compõem as primeiras redes traçadas na construção do nosso patrimônio afetivo.
As primeiras paixões nos revelam outro gostar, outro cuidar, outro tocar e outro vibrar. Com os amores da adolescência e da juventude, descobrimos outro olhar sobre quem somos e sobre a vida, um amar de dois, um amar erótico. Confirmamos, assim, que possuímos, além de um potencial afetivo, um sexual, e também dessa forma o outro será adicionado a nossa rede relacional, ao nosso patrimônio. O total do nosso patrimônio, como algo construído a partir do relacionamento com várias pessoas, será ora valorizado, ora empobrecido. Cada pessoa é única como é cada relacionamento, o que implica diferentes significados e soma menor ou maior ao seu patrimônio afetivo-sexual. Alguns somarão em experiências sexuais e quase nada no lado afetivo. Ninguém é perfeito. O importante é ter algo a ensinar e algo a aprender.
O amor e a sexualidade são nobres! Então, como se explica que o casal delegue a sexualidade e o ouvir o outro para a última atividade do dia? Às 23h, à 1h, quando ninguém mais está inteiro, é o tempo de falar de si, do casal e, talvez, de ter sexo? Talvez seja bom rever esse padrão! Um dos erros do amor conjugal é subestimar o outro como ser humano que tem suas necessidades, esquecer-se de ter um espaço livre para nutrir novos sonhos em novas fases, pensando na impossibilidade dessa emoção inebriante findar.
A quantas anda o seu patrimônio afetivo e sexual? O amor a dois precisa de ações que promovam emoções positivas para manter-se vivo. Sugiro algumas "ilhas de ócio" por semana, um espaço livre de compromissos com terceiros, um tempo para estar plenamente inteiro com o ser amado, em qualquer atividade escolhida, o que inclui a sexualidade mais plena, além de uma "rapidinha sexual". Bem, se você não estiver muito dedicado ao casal, talvez o seu patrimônio afetivo baseado na família e nos amigos lhe ampare em caso de separação. Por outro lado, talvez ainda haja tempo para reinvestir a dois.