Aos 85 anos, Luis Angelo Giacobbo estudou inglês no Canadá e viveu em uma república com estudantes bem mais jovens Yamara Maria Rech Eichner decidiu abrir sua própria empresa depois que se aposentou Há 18 anos Neuci Paixão, 70, dedica seu tempo ao trabalho voluntário Símbolo do seu signo e da coragem que achou que não tinha é o significado da tatuagem que Miryam Hahn fez depois que se curou de um câncer de mama
Aposentadoria não é sinal de parar no tempo, ficar em casa ou qualquer coisa que sugira que a vida acabou. Pelo contrário. Especialistas afirmam que esse é o momento para cuidar mais de si mesmo e dos familiares. Trabalhar, estudar e realizar sonhos que antes que não puderam ser feitos antes é fundamental para a saúde e qualidade de vida da terceira idade.
Uma pesquisa realizada em 2013 pela Vagas Tecnologia, mostrou que 53% dos aposentados querem voltar à ativa, seja de forma remunerada ou voluntária. Para o IBGE, 27% dos brasileiros com mais de 60 anos ainda trabalhavam.
Manter a cabeça e o corpo ativo são os principais remédios para quem se aposentou, mas está longe de se sentir velho. No Dia do Aposentado, reunimos quatro histórias de quem se aposentou e mudou a vida depois da aposentadoria.
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Trocar os móveis cerebrais
Ele lembra da Segunda Guerra Mundial como se tivesse acontecido na semana passada. Brinca com os netos, caminha todos os dias e, em 2014, foi intercambista de inglês. Luis Angelo Giacobbo se aposentou com 70 anos. Três meses depois sofreu um AVC e teve todo o lado esquerdo do corpo danificado. O susto fez ele entender que parar iria fazê-lo adoecer outras vezes e ele ainda não se sentia pronto para abandonar o desejo de viver.
O cérebro de Giacobbo funciona como uma casa, com móveis e dividido. É ele quem faz essa comparação e diz que, assim como mudamos as coisas de lugar para renovar o lar, ele está sempre aprendendo algo novo para fazer o cérebro funcionar melhor.
- Se eu ficasse parado no mesmo lugar, cercado apenas pela televisão, logo não conseguiria acompanhar nem as imagens do aparelho. Eu sairia fora do mundo. Tenho 85 anos e sou muito saudável. Eu procuro formar sempre novas conexões cerebrais para me afastar daquele "médico alemão".
O alemão em questão é o Alzheimer. Os danos do AVC estão bem melhores, fruto da dedicação à fisioterapia e aos exercícios. Giacobbo lê sobre neurociência para entender como pode manter o cérebro ativo e estudar inglês foi uma das formas de garantir uma nova mudança nos seus móveis cerebrais.
Durante três meses, em 2014, estudou inglês com outros 400 alunos de todo o mundo em Vancouver, no Canadá. Viveu na república de uma família filipina que morada há 30 anos no país com outros cinco estudantes.
- Eu era o vovô da turma. Mas eu não estava lá para contar coisas do passado. Quem vive do passado é velho e eu sou como eles, jovens que olham sempre para frente.
No meio de árabes, libaneses, neozeolandeses, brasileiros e estudantes de diferentes países, aprendeu inglês discutindo, em sala de aula, a cultura de cada um.
- Estudar um novo idioma sempre foi um sonho. Acredito que ficamos velhos quando pensamos em ficar velhos. Velhos não têm planos de vida e eu tenho e quero executá-los. Quando viajamos nessa idade mais avançada o certo não é ensinar ou criticar outras culturas, mas aproveitar tudo de novo que teremos contato.
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"Quem decide agora, sou eu"
Durante 25 anos, Yamara Maria Rech Eichner esteve envolvida com a indústria da borracha e do plástico. Aos 53 anos, quando se aposentou, resolveu que não podia ficar em casa sem criar algo. Investiu no novo e abriu uma empresa na área de bioquímica e biotecnologia. Em meio a jovens empreendedores, ela incubou a Naturoils para aprender, ter suporte e crescer inovando.
- Abrir minha própria empresa mudou a minha vida. Posso direcioná-la para onde quiser, tenho consultores e aprendo com eles todos os dias. Agora, eu decido e não mais sigo decisões. A idade me trouxe paciência e experiência.
Diferente dos mais jovens, que, em geral, esperam resultados imediatos, Yamara sabe que cada passo é um momento diferente e que tudo tem seu próprio tempo para acontecer.
O tempo mudou pouco a rotina dela. O que ela mais tem hoje é justamente tempo.
- Continuo fazendo as mesmas atividades, mas posso me dedicar mais ao lazer, a minha família, à leitura e a minha empresa.
Trabalhar pelo outro
Neuci Paixão está aposentada há 18 anos. Hoje, aos 70, é voluntária no Instituto do Câncer Infantil. Quatro dias por semana são dedicados ao trabalho.
- Sempre gostei de colaborar com as pessoas. Isso me faz bem e me mantém feliz.
O trabalho é voluntário, mas não é leve ou fácil. Neuci carrega peso, atende familiares e cuida das crianças que estão num momento delicado da vida.
- Elas me ensinam muitas coisas. Sou uma pessoa melhor por poder cuidar dos pequenos. O trabalho voluntário ocupa minha cabeça, me mantém saudável. Não fico doente nunca. É um sonho poder ser tão ativa e realizada.
Coragem
Miryam Hahn, 67 anos, se aposentou e descobriu um câncer na mama. Quando jovem dizia que silicone e tatuagem era coisa de gente corajosa. Depois que retirou o seio e colocou silicone, prometeu que iria tatuar a pele, contradizendo aquilo que sempre dizia. Afinal, ela é uma mulher corajosa. Cheia de saúde, tatuou o símbolo do seu signo nas costas: câncer.
- Todo mundo adora o desenho. Tanto que me incentivaram a fazer mais. Tatuei na perna o nome do cachorrinho que foi meu grande amigo, Gig e agora vou fazer uma do filhote Luck. Os dois são muito importantes para mim. A aposentadoria pode ser, para muitas pessoas, sinônimo de desistência. Para mim, é de vontade de viver e aproveitar para realizar aquilo que não fizemos antes.