Muitos bebês adoram brincar com tecnologia touchscreen e seus pais parecem orgulhosos da habilidade dos dedinhos pilotando seu celular! A tela de toque oferece gratificação instantânea com suas imagens coloridas, movimentos e sons atraentes para os sentidos. Compreensivelmente, muitos pais ficam entusiasmados com esta tecnologia interativa, porque, por meio de anúncios de mídia, ouviram falar que bebês podem aprender letras, números, palavras e conceitos deste modo. No entanto, até este momento não há estudo mostrando relação entre uso de tablets ou smartphones e aprendizagem infantil.
Para opinar sobre estas questões, temos de voltar brevemente ao cérebro em desenvolvimento. O infantil cresce intensamente durante os primeiros três anos, chegando a triplicar sua massa no primeiro ano. Os estímulos experimentados neste período influenciam profundamente o seu desenvolvimento. As imagens em tela se comportam de maneira radicalmente diversa daquelas do mundo real.
Imagine uma bola na vida real e uma bola na TV. Os bebês estão desenvolvendo a visão tridimensional. O mundo na tela existe em duas dimensões, portanto, a bola é apenas um círculo plano. Se você jogá-la pelo chão, ela rola em movimento continuado, diminuindo gradualmente até parar. A mesma ação na TV é quebrada, você a vê deixar a mão de alguém, então vislumbra um lance do movimento, em seguida, a imagem da bola em repouso. Se o seu filho quiser pegar uma delas na vida real, vai tentar barrar, agarrar, ou engatinhar atrás dela. As coisas na tela simplesmente desaparecem, para serem substituídas por outras, ele nunca vai colocar suas mãos (ou a boca) sobre elas. Os bebês podem olhar para as cores brilhantes e movimento em uma tela, mas seus cérebros são incapazes de entender o sentido ou significado de todos aqueles desenhos estranhos. Levará dois anos completos para o cérebro de um bebê se desenvolver a ponto de os símbolos em uma tela representarem seus equivalentes no mundo real. Devido a essa confusão, as crianças, até os três anos, aprendem melhor no mundo real do que a partir de qualquer tela, especialmente quando se trata de linguagem. Elas aprendem mais se assistirem a algo na companhia de uma pessoa que fala sobre o que estão vendo.
Certo, os bebês não lucram nada ao assistir à TV, mas se parecem gostar, qual é o problema? Um pouco de TV parece melhor que ficarem "abandonados" enquanto a mãe prepara o jantar. Não, ver televisão é pior do que não ver! Existem evidências sugerindo que o uso de tela antes de dois anos tem efeitos negativos duradouros sobre o desenvolvimento da linguagem infantil, as habilidades de leitura e a memória de curto prazo. Também contribui para problemas com o sono e a atenção. Se "você é o que você come", então o cérebro é o que experimenta, e entretenimento de vídeo é como má alimentação para a mente infantil.
O problema não reside apenas no que os pequenos estão fazendo enquanto assistem à TV, mas também no que eles não estão fazendo. As crianças estão programadas para aprender a interagir com outras pessoas. A dança das expressões faciais, o tom de voz e a linguagem corporal entre uma criança e um pai não são apenas bonitos. São tão complexos que os pesquisadores têm de gravar estas interações em vídeo e revisar em câmera lenta para ver tudo o que está acontecendo. Sempre que uma das partes, filho ou pai, está ligada na telinha, a troca chega a um impasse. Sua criança aprende muito mais batendo panelas no chão enquanto você cozinha do que assistindo a uma tela no mesmo intervalo de tempo, porque a cada momento vocês vão interagir e trocar olhares.
O hábito de manter a TV em segundo plano, mesmo que "ninguém assistindo", é suficiente para atrasar o desenvolvimento da linguagem.
Pesquisas afirmam que cerca de 40% das crianças americanas estão assistindo a algum tipo de vídeo aos cinco meses e, aos dois anos, o número sobe para 90%. Sabendo disso, a Academia Americana de Pediatria, desde 1999, aconselha a evitar o uso de tela em menores de dois anos, e isto inclui computadores, tablets e telefones celulares. Para estimular seu filho, converse, abrace e olhe no olho.
Fontes: Tópico discutido no Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Academia Americana de Pediatria.