Em A Ciência da Felicidade, lançado em 2007, e sua sequência The Myths of Happiness (os mitos da felicidade, em tradução literal), Sonja Lyubomirsky, uma russa de 46 anos, professora de psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), causou arrepios com suas descobertas provocantes e frequentemente inesperadas.
Confira algumas delas
- Quem mora de aluguel é mais feliz do que quem mora em casa própria.
- Experiências positivas tornam-se mais agradáveis quando são interrompidas.
- Atos de gentileza fazem as pessoas mais felizes, a menos que sejam obrigadas a serem gentis com muita frequência. (Leve café na cama para seu parceiro uma vez e a sensação é ótima. Faça isso todo o dia e vira um trabalho.)
- As pessoas se sentem bem quando recebem avaliações ruins, porém melhores do que a dos outros. E ficam infelizes se obtêm avaliações excelentes, mas os outros tiveram resultados melhores do que os delas.
- Indivíduos infelizes realizam a máxima atribuída ao escritor Gore Vidal: "Para obter a verdadeira felicidade, não basta ser bem-sucedido... Os amigos precisam fracassar".
Saúde e felicidade andam juntos
Outra provocação de Sara é quem se concentra demais na busca pela felicidade acaba recebendo exatamente o contrário. Mas esse não é o caso o cardiologista Fernando Lucchese, que nos últimos tempos se ocupou longamente em compreender o que faz as pessoas felizes ou infelizes. O resultado foi o quatro livro do médico gaúcho, Não Sou Feliz, Por Quê?, recém-lançado pela editora L&PM.
- Este livro é uma reunião de pesquisas sobre o tema realizadas nas últimas três décadas, com algumas ideias e lições aprendidas no consultório e na vida - resume Lucchese, que é diretor do Hospital São Francisco de Cardiologia, da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Dividido em capítulos e tópicos curtos, que tornam fácil percorrer suas 176 páginas, Não Sou Feliz, Por Quê? apresenta, na primeira parte, conceitos sobre a felicidade e os fatores que contribuem favorável ou negativamente para ela. Na segunda parte, aborda os fatores externos, comparando a felicidade entre as nações e as causas que independem de cada um. O tese central de Lucchese, no entanto, é que saúde e felicidade são a mesma coisa, e só um bom estilo de vida permite às pessoas alcançá-las simultaneamente.
Confira a entrevista
Vida - O homem é geneticamente programado para ser feliz?
Fernando Lucchese - A melhor evidencia de que somos programados para sermos felizes é a alegria das crianças que não sabem reconhecer os motivos para tristeza e sofrimento. Essas fotos terríveis de crianças brincando no lixo são o exemplo da magia infantil, que sabe criar alegrias onde elas não parecem existir. O olhar da criança dispõe de um filtro poderoso que faz dois palitos de picolé cruzados transformarem-se num grande avião. Definitivamente, nascemos felizes e nos tornamos tristes depois, acumulando sofrimentos e armazenando-os mal em nossa mente e alma. A genética influi, mas não é excepcionalmente importante, pois as experiências da vida mudam o comportamento das pessoas e geram o produto final.
Vida - Dizem que a felicidade está dentro da cada um? Mas por que é tão difícil olharmos para dentro de nós mesmos?
Lucchese - O ser humano é o pior inimigo de si mesmo. É ele que constrói ou destrói sua perspectiva de ser feliz. É impressionante a capacidade do cérebro humano de gerar sofrimento. Atitudes positivas se relacionam à maior índice de felicidade e de longevidade, Mas o ser humano parece ter dificuldade de aceitar sua própria felicidade, procurando viver em um estado permanente de neurose, preocupando-se negativamente com tudo o que a vida lhe confere.
Vida - Por que comparamos nosso sucesso com o do vizinho?
Lucchese - A síndrome da comparação social e o fator inveja são destruidores da felicidade. Temos a tendência mórbida de nos comparar com pessoas mais bem-sucedidas do que nós. Por isso sofremos ainda mais. Há um belo estudo feito com medalhistas olímpicos demonstrando que os ganhadores de medalha de bronze são mais felizes do que os que ganham a prata, porque olham para trás e veem que eles venceram, enquanto o medalhista de prata só enxerga a oportunidade perdida de chegar ao ouro.
Vida - Quais são as principais fontes de infelicidade?
Lucchese - Existe uma avalanche interna de geradores de infelicidade: raiva, inveja, depressão, medo, ódio, frustração, remorso, inquietude, culpa. Existem sofrimentos evitáveis e inevitáveis. Estes que listei são todos evitáveis. O conhecimento de sua causa pode atenuá-los e eliminá-los. Os inevitáveis são: nascer, envelhecer, adoecer e morrer. É o ciclo da vida, com estes temos que conviver. As influências externas podem ser compreendidas ao analisarmos programas de governo, falta de segurança, a corrida do consumo, a falta de confiança na sociedade que nos cerca.
Confira entrevista em vídeo
Lucchese explica o que é a felicidade, as principais fontes de tristeza e dá dicas para ser feliz
Guia para a felicidade
Em seu novo livro, Fernando Lucchese conta o que faz as pessoas felizes
A tese central do cardiologista é que saúde e felicidade são a mesma coisa
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