No clima de manifestações que tomaram o país nas últimas semanas, mulheres de várias idades bem que poderiam sair às ruas para protestar. Motivos não faltam. Afinal, quando o assunto é o direito legítimo de "chegar lá", os mitos e tabus que permeiam a sociedade atrapalham, até os dias de hoje, a realização feminina entre quatro paredes.
"Posso me masturbar?", "Posso gemer?", "E se não conseguir gozar?".
As muitas dúvidas sobre orgasmo, libido e formas de excitação somam-se a questões emocionais, culturais, profissionais e biológicas, povoando com muitas caraminholas o imaginário sexual feminino.
Tão complexo como o painel de um Boeing
Se ela tem facilidade de dialogar com o (a) parceiro (a), às vezes empaca na inconstância comportamental, influenciada por seus hormônios. Se é bem informada e conversa sobre, às vezes o medo de ousar a impede de liberar suas fantasias mais íntimas.
Dona de um corpo cujo prazer é multifatorial e tão complexo quanto o painel de controle de um Boeing, a mulher também não foi muito privilegiada pela questão histórica.
Estudos sobre o prazer feminino só passaram a ganhar visibilidade depois dos anos 60, explica a ginecologista e sexóloga Jaqueline Brendler, diretora-executiva da Associação Mundial para Saúde Sexual (WAS). Impulsionadas pela entrada da mulher no mercado de trabalho, liberação sexual e uso da pílula anticoncepcional, as revistas voltadas a esse público passaram a desmistificar o assunto.
Até lá, tudo o que se esperava das mulheres no casamento era que "fossem boas mães e boas donas de casa".
- Não se previa o orgasmo para elas. As novas gerações de homens estão pensando mais nisso - diz Jaqueline.
Ainda bem. Com as mudanças do mundo contemporâneo, os casais tiveram que se adaptar. Ao ganhar seu dinheiro e comandar a própria vida, a mulher passou a cobrar do parceiro maior participação no jogo erótico. Superando essa fase em que deviam apenas servir, cada vez mais, passaram a exigir o "direito de chegar lá". Nem todas sabem, porém, que é preciso aprender o caminho até o cume da montanha.
Ela deve ser responsável pelo seu prazer - e não ele
Por melhor que seja o desempenho do homem, alerta a sexóloga, a mulher precisa entender que é ela - e não ele - a grande responsável por seu prazer, na medida em que se permitir e se tornar disposta a aprender como o orgasmo acontece. Ou seja: quanto mais falar o que gosta e o que considera bom, maiores são as chances de satisfação.
- É bom quando a mulher assume a sua responsabilidade sobre o prazer não deixa essa tarefa exclusivamente para o outro - diz a terapeuta sexual.
A falta de autoconhecimento é, inclusive, um dos principais entraves. De acordo com Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da Universidade de São Paulo (USP,) as mulheres têm dificuldade de se tocar até para cuidar da própria saúde:
- Elas se culpam muito se têm necessidade de autoerotização. Se boicotam até para fazer autoexame de câncer na mama.
Manifesto feminino
Pelo direito de ser feliz... na cama!
Superando a fase em que deviam ser apenas boas mães e donas de casa, as mulheres passam a exigir o "direito de chegar lá"
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