As aulas de educação física podem fazer muitas crianças com sobrepeso perder peso. E, para começar, elas poderiam nem ter ficado gordas se suas mães as tivessem amamentado quando bebês.
Mas saiba disso: as pessoas obesas deveriam definitivamente evitar as dietas radicais. E elas podem perder mais de 20 quilos em cinco anos, simplesmente caminhando um ou dois quilômetros por dia.
Esses são alguns dos mitos e suposições não comprovados sobre obesidade e perda de peso que foram repetidos com tanta frequência e convicção que até mesmo cientistas como David B. Allison, que comanda o Centro de Pesquisa em Nutrição e Obesidade da Universidade do Alabama, em Birmingham, caiu em alguns deles.
Agora, ele está tentando estabelecer a verdade. Em artigo publicado na edição online da revista The New England Journal of Medicine, Allison e seus colegas analisam sete mitos e seis suposições infundadas sobre a obesidade. Eles também listam nove fatos que, infelizmente, prometem muito pouco para as soluções rápidas desejadas pelos obcecados pelo peso. Exemplo: "Tentar fazer uma dieta ou recomendar que alguém faça uma dieta geralmente não funciona bem no longo prazo".
Especialistas em obesidade aplaudiram esse franco esforço de dispersar a confusão generalizada sobre o assunto. O campo, segundo eles, tornou-se uma espécie de pântano.
- Em minha opinião, existe mais desinformação passando por fato sobre esse assunto do que em qualquer outro que posso imaginar - afirma o médico Jeffrey M. Friedman, pesquisador de obesidade da Universidade Rockefeller, em Nova York.
Outros concordaram, dizendo ser importante corrigir essas alegações falsas. Steven N. Blair, pesquisador de obesidade e exercícios na Universidade da Carolina do Sul, diz que seus próprios alunos acreditam em muitos dos mitos:
- Gosto de desafiar meus alunos. Você pode me mostrar os dados? Geralmente isso é impossível.
Café da manhã faz diferença?
Autor do artigo, David Allison buscou estabelecer o que se sabe ser inequivocamente verdadeiro sobre obesidade e perda de peso. Seu primeiro pensamento foi que se pesar todos os dias ajuda a controlar o peso. Ele procurou pelos estudos conclusivos que certamente existiriam. Não encontrou nenhum.
- Meu Deus, após mais de 50 anos estudando a obesidade a fundo e todo o clamor público, por que não sabemos essa resposta? O mais incrível é como seria fácil confirmar isso. Pegue 2 mil pessoas e, aleatoriamente, faça algumas se pesarem todos os dias e outras, não - afirma Allison.
Mas nada foi feito. Em vez disso, as pessoas muitas vezes dependem de estudos fracos que são repetidos indefinidamente.
É comum pensar, por exemplo, que pessoas que comem no café da manhã são mais magras. Mas essa noção é baseada em estudos de pessoas que comiam no café da manhã. Os pesquisadores perguntaram se elas eram mais magras ou mais gordas do que pessoas que não tomavam café da manhã - e encontraram uma associação entre tomar café da manhã e ser magro. Mas esses estudos podem ser enganosos, pois os dois grupos podem ser diferentes de outras formas que fazem os que comem no café da manhã serem mais magros.
Mesmo assim, ninguém designou pessoas para comer ou não no café da manhã, o que poderia testar o argumento. Assim, Allison questiona por que fazer outro estudo sobre a associação entre magreza e café da manhã?
- Por que estamos fazendo isso? Todo esse tempo e esforço basicamente desperdiçados. A questão é: essa é uma associação causal?
Para obter a resposta, ele acrescentou, "basta fazer o estudo clínico". Ele decidiu fazê-lo por conta própria, com fundos de pesquisa da universidade. Algumas centenas de pessoas serão recrutadas e atribuídas aleatoriamente a um de três grupos. Algumas deverão tomar café da manhã todos os dias, outras não comerão nada, e o terceiro grupo receberá conselhos vagos sobre se devem ou não comer.
Ser razoável ou ambicioso?
Enquanto mergulhava na literatura de obesidade, Allison começou a se perguntar por que alguns mitos e equívocos são tão comuns. Muitas vezes, ele percebeu, as crenças refletiam um "viés de razoabilidade". O conselho parece tão razoável que deve ser verdade. Por exemplo, a ideia de que as pessoas obtêm melhores resultados em programas de perda de peso quando definem metas razoáveis parece muito sensata.
- Todos nós queremos ser razoáveis - afirmou Allison.
Porém, ao examinar estudos de perda de peso, ele não encontrou nenhuma associação consistente entre a ambição da meta e quanto peso foi perdido. Esse mito, no entanto, ilustra o terreno delicado por onde passam os programas de emagrecimento ao aconselhar seus participantes. O problema é que, na média, as pessoas não perdem muito - 10% de seu peso é o padrão. Mas definir 10% como meta não é necessariamente a melhor estratégia. Alguns poucos perdem muito mais, e algumas pessoas podem ser inspiradas pela ideia de um emagrecimento realmente transformador.
- Se um paciente diz: "Você acha que é razoável eu perder 25% de meu peso corporal?", a resposta honesta é: Não sem cirurgia. Porém, se um paciente diz que sua meta é perder 25% de seu peso, eu diria: Vá em frente - argumentou Allison.
Então, o que fazer?
Todo esse negativismo incomoda as pessoas, reconheceu Allison. Quando ele fala sobre suas descobertas com cientistas, eles costumam dizer: "Certo, você nos convenceu. Mas o que podemos fazer? Precisamos fazer alguma coisa". Ele responde que os cientistas têm o dever ético de deixar claro o que é real e o que é especulação. E embora não haja problemas em recomendar passeios de bicicleta ou se pesar diariamente, os cientistas precisam oferecer a ressalva de que essas atividades parecem sensatas, mas não foram comprovadas.
Entre os métodos mais estabelecidos está a cirurgia de perda de peso - que, naturalmente, não é adequada para a maioria das pessoas. Mas cirurgiões realizaram cuidadosos estudos para mostrar que, na média, as pessoas perdem quantidades substanciais de peso e sua saúde melhora, explicou Allison. Para quem faz dieta, os melhores resultados vêm com programas estruturados, como os que oferecem refeições completas ou substitutos para as refeições.
Enquanto isso, afirmou Allison, cabe aos cientistas mudar suas maneiras.
- Precisamos realizar estudos rigorosos. E precisamos parar de fazer estudos de associação depois que uma associação foi claramente demonstrada. Mas nunca disse que devemos esperar pelo conhecimento perfeito - concluiu Allison.
Porém, como disse John Lennon, "Apenas me dê um pouco de verdade".
Uma análise da perda de peso
Uma nova e rigorosa avaliação da ciência da obesidade expõe mitos, equívocos e o que se sabe sobre emagrecer:
MITOS
- Pequenas coisas fazem uma grande diferença. Caminhar um ou dois quilômetros por dia pode levar a uma perda de mais de 20 quilos em cinco anos
- Defina uma meta realista para perder uma quantidade modesta. Pessoas ambiciosas demais ficam frustradas e desistem
- Você deve estar mentalmente pronto para a dieta, ou nunca terá sucesso
- Devagar e sempre é a melhor maneira de emagrecer. Se perder peso rápido demais, você perderá menos em longo prazo
NÃO SE SABE (ideias ainda não comprovadas como verdadeiras ou falsas)
- Hábitos de dieta e exercícios na infância definem o cenário para o resto da vida
- Acrescentar muitas frutas e vegetais à dieta para perder peso ou não ganhar tanto
- Dietas de efeito sanfona levam a maiores taxas de mortalidade
- Quem faz lanches e come petiscos ganha peso e fica gordo
- Praticando ciclismo, corrida e caminhada, as pessoas não ficarão tão gordas
Fatos (têm provas fortes para apoiar)
- A hereditariedade é importante, mas não é o destino
- Exercícios ajudam a manter o peso
- A perda de peso é maior com programas que oferecem refeições
- Alguns medicamentos receitados ajudam com a perda e manutenção de peso
- A cirurgia de perda de peso em pacientes apropriados pode levar a um emagrecimento de longo prazo, menos diabetes e uma menor taxa de mortalidade
Fonte: New England Journal of Medicine