Estudos desenvolvidos na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) propõe uma nova técnica para o desenvolvimento de enxertos ósseos artificiais. Os pesquisadores do Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV) da Instituição recentemente patentearam um invento que utiliza o Biosilicato, um material obtido a partir de um processo de cristalização de vidros que é altamente bioativo e possui a habilidade de interagir com o tecido ósseo e promover sua regeneração.
A importância do invento pode ser medida pela relevância dos tratamentos de lesões ósseas, já este tecido é considerado, depois do sangue, o segundo mais transplantado. Além disso, os pesquisadores do laboratório ressaltam que o envelhecimento da população e o aumento de cirurgias ortopédicas que utilizam enxertos ósseos têm ampliado, a uma rápida taxa de crescimento, esse tipo de necessidade clínica e o mercado para os tratamentos baseados em biomateriais.
Atualmente, a forma mais utilizada pelos médicos no tratamento de fraturas ósseas é o enxerto autógeno, realizado com material proveniente do próprio paciente. No entanto, a pequena quantidade de material disponível, os riscos de infecção e a necessidade de cirurgias adicionais, dentre outras complicações, tornam essa terapia insatisfatória. Ana Rodrigues, pesquisadora do LaMaV, explica que o uso deste tipo de enxerto é muito restrito, porque o local para extração do osso não pode comprometer a saúde da pessoa.
O uso de vidros como biomateriais foi proposto inicialmente em 1969, por Larry Hench, professor Emérito do Imperial College, de Londres. Seu grupo identificou certos tipos de vidros que, posteriormente, ficaram conhecidos como bioativos, o que significa que na interação com o corpo humano esse material responde biologicamente formando uma ligação química entre os tecidos vivos e o material utilizado.
Primeiramente, os pesquisadores desenvolveram o Biosilicato, produzido a partir de um tratamento térmico especial do vidro. A substância tem sido utilizada com sucesso em testes clínicos no tratamento da hipersensibilidade dos dentes, na forma de pó e incorporado em pastas de dente. Segundo os pesquisadores, ele é tão bioativo quanto o Bioglass 45S5, o vidro desenvolvido por Hench, e possui a maior bioatividade dentre todos os materiais conhecidos.
Os scaffolds poderiam ser utilizados em uma cirurgia para o tratamento de uma lesão em formas irregulares para se adequarem às dimensões do defeito ósseo de cada paciente. Nesse processo tanto o médico poderia esculpir o material no momento da cirurgia, como também poderiam ser utilizadas técnicas como as da prototipagem rápida, o que permitiria que, a partir dos dados obtidos por meio de tomografia, os scaffolds pudessem ser construídos a partir de dados manipulados por computador.
A professora Ana Rodrigues enfatiza que o grupo está interagindo com outros pesquisadores com o objetivo de promover os testes e experimentos necessários para que o invento possa ser utilizado clinicamente. -Esse é um processo longo, difícil de estimar, porque envolve várias questões éticas que temos que prever em cada etapa visando a segurança e a efetividade da aplicação dos scaffolds.