Quando escreveu o roteiro do filme Colegas, estrelado por três atores com Síndrome de Down, o cineasta Marcelo Galvão queria transmitir a alegria que compartilhou na própria infância, convivendo com um tio portador da síndrome.
O resultado emocionou o público e agradou os jurados do 40º Festival de Cinema de Gramado, que deram à comédia o kikito de melhor filme, além do Prêmio Especial do Júri para o trio de protagonistas Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola.
- Sem dúvida é um projeto de inclusão social, mas o grande mérito do filme é não falar de Síndrome de Down. Quando você senta para assistir, você até esquece que eles têm a síndrome e apenas se diverte com a história - destaca o diretor.
Colegas narra as aventuras de três jovens que resolvem fugir do instituto onde vivem, dirigindo o velho carro do jardinheiro Arlindo (Lima Duarte). Eles partem em busca de seus sonhos: Stalone (Ariel Goldenberg) quer ver o mar, Márcio (Breno Viola) quer voar e Aninha (Rita Pokk) busca um marido para se casar. Enquanto experimentam o sabor da liberdade, eles se envolvem em confusões e aventuras, como se a vida não passasse de uma eterna brincadeira.
- Meu tio era uma criança no corpo de um adulto. Queria passar toda a espontaneidade, a franqueza, o cômico e o lúdico que vivi com ele neste filme - conta Galvão.
Foram três meses de filmagem, fora os quatro anos de ensaio com o trio principal. Para selecionar os atores, o diretor fez testes de elenco com mais de 300 jovens com Síndrome de Down - 60 atuaram no filme.
- Quando estavam todos no set era uma festa, eles abraçavam, beijavam, gritavam. E o bacana é que eles vivem o mundo lúdico, se você diz que ele é um rei, ele acredita que é um rei - diz.
Para Galvão, a repercussão do filme em Gramado comprova o potencial de bilheteria do filme, desacreditado por distribuidores e patrocinadores na concepção do projeto.
Secretária da Associação dos Familiares e Amigos do Down de Porto Alegre, Vera Ione Scholze Rodrigues se diz curiosa para ver o filme.
- Achei interessante que o filme simplesmente coloca os jovens como atores iguais a quaisquer outros, o que traduz exatamente o modo como vemos a inclusão - comenta Vera.
A estreia nos cinemas brasileiros, inclusive em Porto Alegre, está prevista para 9 de novembro.
Saiba mais
:: A Síndrome de Down foi descrita em 1866 pelo médico inglês John Langdon Down. Foi ele quem descobriu que a causa da síndrome era uma alteração genética, que ocorre durante a divisão celular do embrião.
:: Quem tem Síndrome de Down possui 47 cromossomos (e não 46), sendo o cromossomo extra ligado ao par 21. A idade avançada dos pais é um dos fatores que aumenta a probabilidade de ocorrer essa alteração.
:: Portadores da síndrome apresentam certos traços típicos, como cabelo liso e fino, olhos "puxados" semelhantes aos orientais, rosto redondo, baixa estatura, flacidez muscular, mãos pequenas com dedos curtos e prega palmar única.
:: A criança com Síndrome de Down apresenta atraso no desenvolvimento da linguagem e das funções motoras, mas com um trabalho de estimulação desde o nascimento pode participar das atividades normais da família e da sociedade como um todo.
:: Por terem baixa resistência imunológica, as crianças com Síndrome de Down costumam ser mais suscetíveis a infecções respiratórias e digestivas. São comuns também problemas cardíacos.
:: No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem cerca de 300 mil pessoas com Síndrome de Down.
Fonte: Ministério da Saúde
Ficha técnica
Filme: Colegas
Diretor: Marcelo Galvão
Elenco: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Rui Unas, Deto Montenegro, Leonardo Miggiorin, Marco Luque, Juliana Didone, Christiano Cochrane, Alex Sander, Amélia Bittencourt
Produção: Marcelo Galvão, Marçal Souza
Roteiro: Marcelo Galvão, Ricardo Barreto
Fotografia: Rodrigo Tavares
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Comédia
Estúdio: Gatacine