Após a rescisão do contrato com a empresa que fornece médicos à Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Canoas, a prefeitura afirma que a situação será normalizada até quarta-feira (19).
Quatro das cinco UPAs do município eram atendidas pela Medlife Serviços Médicos, que alega atraso de pelo menos três meses nos repasses, feitos pelo Instituto Brasileiro de Saúde, Ensino, Pesquisa e Extensão para o Desenvolvimento Humano (IB Saúde), contratado pelo município para administrar as unidades Niterói, Rio Branco, Boqueirão e Guajuviras.
Conforme nota enviada pelo Executivo (íntegra ao final da reportagem), o IB Saúde teria se comprometido a contratar novos médicos. Zero Hora contatou o instituto, que não confirmou a informação nem detalhou como será feita a normalização.
A rescisão ocorreu na última segunda-feira (18), após atrasos nos repasses que, segundo a prestadora, levaram a uma dívida de mais de R$ 5 milhões. A prefeitura diz ter notificado a empresa, garantiu que as verbas públicas repassadas estão em dia e disse que todas as unidades estão com cobertura clínica, com exceção dos atendimentos pediátricos.
A comerciante Andressa de Oliveira Souza, 36 anos, teve que deixar a UPA Niterói, perto de onde mora, por não ter médico para atender sua neta de cinco meses.
— A gente chegou aqui e disseram que não tem pediatra. Mandaram a gente pra outro lugar, sendo que moramos aqui no Niterói. Agora temos que ir pra Matias Velho — relata.
Apenas a UPA Caçapava, no bairro Mathias Velho, única não operada pela IB saúde, está realizando esse tipo de atendimento. Casos mais graves estão sendo direcionados ao Hospital Universitário (HU).
Espera maior do que o normal
Apesar da prefeitura garantir atendimento, a reportagem registrou uma oferta de médicos menor do que o normal. Zero Hora circulou em três das quatro UPAs afetadas na manhã desta terça-feira (19). O maior impacto foi percebido na unidade do Rio Branco. Pacientes relataram ter apenas um médico disponível. A média é de três a quatro profissionais.
O jardineiro Thiago Padilha, 39 anos, chegou na unidade por volta das 7h, buscando atendimento após ter sido picado por um animal peçonhento. Três horas depois, ele não tinha perspectiva de quando receberia atendimento.
— Só falaram pra mim que tem que esperar. Só tem um médico atendendo até agora. Tá complicado — afirma. A média de espera para atendimento de casos de baixo risco, como é o caso de Padilha, é de quatro horas. No entanto, pacientes relataram que havia previsão de serem atendidos apenas durante a tarde.
Segundo levantamento da Medflife, um terço do efetivo de cem médicos ainda trabalhava nesta manhã. São plantonistas que necessitam concluir as horas de trabalho. A tendência é que todos os postos de trabalho sejam encerrados até o final do dia, conforme a empresa.
O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) afirmou que irá cobrar um calendário para a quitação dos repasses.
Nota da prefeitura de Canoas
"Canoas é uma cidade referência em pronto atendimento no Rio Grande do Sul, com cinco UPAs, o maior número do estado. A situação que ocorre neste momento é pontual e se deve a questões envolvendo uma empresa terceirizada contratada pelo IB Saúde, entidade responsável pela gestão de quatro unidades de pronto atendimento na cidade.
A administração municipal já notificou o IB Saúde para que seja encontrada uma solução para a complementação dos profissionais. A situação, segundo a entidade, deverá ser normalizada nesta quarta-feira (20).
A Prefeitura alerta que entrará com medidas jurídicas diante da interferência indevida de instituições de fora da cidade, que estão prejudicando a contratação de médicos, um ato considerado ilegal, já que existem decisões judiciais que garantem o pleno atendimento médico-hospitalar na cidade.
Reforça, ainda, que vem realizando os pagamentos em dia ao IB Saúde desde abril, inclusive com aumento do repasse mensal. A pendência existente no momento, no valor de R$ 4.238.070,52, deve-se a repasses menores realizados entre os meses de janeiro a março deste ano. Esse valor equivale a quase um mês do pagamento mensal feito à entidade. Valores pagos ao IB Saúde nos últimos meses: R$ 4.213.027,18 (agosto), R$ 4.164.816,30 (setembro) e R$ 4.574.150,77 (outubro).
Neste momento, todas as UPAs estão com cobertura clínica. Em relação aos atendimentos pediátricos, que hoje só estão ocorrendo na UPA Caçapava, os casos mais graves são encaminhados à retaguarda pediátrica do Hospital Universitário, até que a situação seja normalizada."