Responsável pelo aumento de casos de mpox no continente africano, a nova variante da doença pode chegar ao Brasil e causar elevação no número de infecções, conforme especialistas ouvidos pela reportagem de Zero Hora.
O vírus voltou a gerar preocupação na quarta-feira (14), quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência sanitária global por conta do crescimento da disseminação do vírus fora da República Democrática do Congo.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 709 casos confirmados ou prováveis da doença em 2024 — número significativamente menor do que os mais de 10 mil notificados em 2022, pico da doença no país.
Desde então, 16 pessoas morreram devido ao vírus, com o óbito mais recente em abril de 2023. No Rio Grande do Sul, foram cinco notificações de casos neste ano, mas nenhuma relacionada à nova cepa, garante o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).
— Novamente estamos sob a vigência de uma nova emergência porque foi identificada, em alguns países africanos, uma nova variante que corresponde ao clado 1 de mpox. Essa variante está ocasionando surtos de grande magnitude nesses países. E, tendo em vista que existe toda uma mobilização de viajantes, especialmente após as Olimpíadas, e que vivemos em um mundo globalizado, existe sim a probabilidade dessa nova variante também estar presente no nosso território — afirma Roberta Vanacôr, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs.
Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista e pesquisador do Centro de Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento, concorda que há essa possibilidade e acrescenta que essa cepa não é mutante, mas uma variante já existente. O problema é que essa linhagem parece ter uma transmissibilidade e uma virulência maior, ou seja, potencial para causar doença mais grave e morte.
O especialista, que também é diretor científico da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), destaca que o alerta da OMS não tem como objetivo “assustar” a população, mas é uma classificação importante:
— Isso acaba mobilizando várias ações da própria OMS para facilitar que haja o controle desses surtos. Ao mesmo tempo, coloca em alerta os outros países para que reforcem as medidas de prevenção, de detecção precoce, de isolamento e de identificação do tipo de vírus que está circulando para que não se espalhe ainda mais.
Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, detentor das marcas Weinmann e Serdil no Rio Grande do Sul, opina que o alerta não é do mesmo nível de preocupação que se teria em relação à covid-19, por exemplo. Isso porque a transmissão da mpox ocorre de forma diferente, por meio do contato com as feridas da pele, de gotículas e de objetos contaminados, sendo, portanto, menor do que a disseminação do coronavírus.
— Não temos agora uma pandemia de mpox. Temos, na verdade, uma situação no Congo, na África, que está com um número absurdo de casos, que estão se disseminando para os países vizinhos. Então, existe esse potencial e é com isso que a OMS está preocupada. Com esse alerta, os governos podem começar a investir em fazer mais vacinas, a produzir mais medicamentos e campanhas de saúde pública para informar as pessoas sobre quando procurar o serviço de saúde — esclarece.
Diante da possibilidade de a variante chegar ao Brasil, os especialistas consideram que seria importante haver um controle e uma comunicação maior nos aeroportos, informando os sintomas e orientando os passageiros. O agravante, contudo, é que o período de incubação do vírus é muito extenso, indo de cinco até 21 dias, segundo Granato.
Aumento da vigilância no RS
Diante da emergência global, o Rio Grande do Sul deve emitir um alerta nos próximos dias, com o objetivo de sensibilizar as redes de assistência, comenta Roberta. Além disso, a pasta conta com monitoramento genômico, que pode ser realizado no laboratório do Estado.
— Isso serve para que, no momento que essa nova variante estiver presente no território, tenhamos uma vigilância ativa para conseguir detectar os casos e aí sim tomar as medidas sanitárias e epidemiológicas correspondentes — diz a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs.
Nesta quinta-feira (15), o Ministério da Saúde instituiu um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para coordenar as ações de resposta à mpox e realizou uma reunião técnica com os Estados sobre o assunto. Roberta garante, contudo, que o RS ainda não tem nenhum caso detectado relacionado ao clado 1, que tem potencial de transmissão mais acentuado.
De acordo com a representante do Cevs, o Estado possui um quantitativo de doses remanescentes da vacina contra a doença, já que a adesão do público-alvo foi muito baixa em 2023. No entanto, essas aplicações são destinadas aos contactantes, que são aquelas pessoas que tiveram contato com pessoas infectadas.
— Mas ainda teremos reuniões na sequência com o Programa Nacional de Imunizações com vistas de estar disponibilizando novas doses para todas as unidades federadas. Mas é importante mencionar que nunca desmobilizamos a vigilância ativa sobre a mpox e, agora, vamos intensificar a vigilância — destaca.