O RS teve aumento na cobertura vacinal em 16 dos 18 imunizantes disponibilizados para crianças de até dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2023, em comparação a 2022. Além disso, o Estado alcançou maior cobertura vacinal, em comparação ao Brasil, em pelo menos 17 vacinas para esse público. Os dados são de pesquisa realizada pelo Observatório de Saúde no Trabalho do Serviço Social da Indústria (Sesi), com base em informações do Ministério da Saúde.
Os imunizantes que não apresentaram aumento nas aplicações no RS, ao comparar 2023 a 2022, foram a vacina da hepatite B (até 30 dias) e da varicela. Para a varicela, praticamente ocorreu uma estabilidade, já que, em 2022, o percentual de cobertura foi de 80,30% e, em 2023, 80,10%. Já a hepatite B (até 30 dias) enfrentou uma queda, de 87,7% para 83,3%.
Em comparação à imunização infantil no cenário nacional, a única vacina que não alcançou maior cobertura no RS do que no país foi contra a febre amarela.
— Os números estão mostrando que está melhorando, de 2022 a 2023. Ainda estamos no início de 2024, mas até final do ano passado, em quase todas as vacinas, estava melhorando, voltando a cobertura em direção à meta. Ainda não se alcançou, mas está voltando — avalia Antonino Germano, gerente de Saúde do Sesi do Rio Grande do Sul.
A atualização do estudo já realizado anteriormente pela organização – que tem tradição em vacinar trabalhadores da indústria – buscou compreender a situação da cobertura das vacinas em geral. Ainda que os dados apresentados sejam em relação a crianças, o Sesi percebeu uma diminuição na adesão à imunização de forma geral (em todas as faixas etárias) e significativa até 2022.
— Nos preocupou muito, sobretudo porque, além da questão gripal, tem outros tipos de doenças que estão voltando. O Brasil tinha quase finalizado com essas doenças, como, por exemplo, o sarampo, que até 2018 não tinha mais. Acendeu o alerta — afirma.
O retorno aconteceu, justamente, devido à diminuição da cobertura vacinal, explica:
— Quando tu diminui a cobertura, tem o risco do retorno de doenças erradicadas, poliomielite, rubéola, difteria. Tudo isso é muito ruim, expõe as crianças a maior adoecimento, e quando não tem essa cobertura vacinal adequada, existem mais possibilidades de criação de variantes — explica.
Brasil
O Brasil, por sua vez, obteve aumento da cobertura vacinal em 15 dos 18 imunizantes do calendário infantil oferecidos pelo SUS em 2023, em comparação a 2022. Uma retomada nas imunizações para crianças com até dois anos de idade vem ocorrendo desde 2022, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Vacinas infantis com aumento na aplicação no Brasil em 2023
- Rotavírus
- Meningocócica C
- Meningocócica C – 1o. Reforço
- Hepatite B
- Pentavalente (DTP/HepB/Hib)
- Pneumocócica
- Pneumocócica – 1o. Reforço
- Poliomielite
- Poliomielite – 1o. Reforço
- Febre Amarela
- Hepatite A
- DTP (difteria, tétano e coqueluche)
- Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose
- Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) – 2ª. dose
- Febre amarela
Os imunizantes BCG, hepatite B e varicela, entretanto, ainda não apresentaram coberturas vacinais superiores a 2022. No comparativo entre 2022 e 2023, a vacina que protege contra a tuberculose (BCG) variou de 90,1% para 77,18%. De acordo com o estudo, isso pode ser explicado, em parte, porque os dados referentes a 2023 ainda não foram totalmente contabilizados, pois os registros de doses passaram a ser direcionados para a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
De acordo com a pasta, 2,6 milhões de doses aplicadas de janeiro a maio de 2023 não foram contabilizadas na RNDS. São cerca de 400 mil vacinas de BGC e 600 mil de hepatite B que ainda estão fora do cálculo de cobertura vacinal. Como o processo de migração ainda permanece, a consolidação dos dados ocorrerá ao longo do tempo.
Além disso, em 2023, o Ministério da Saúde também identificou estoques limitados de doses de hepatite B, BCG, tríplice viral e poliomielite. A vacina contra a varicela, por exemplo, faltou na rede pública ao longo do ano em diversos Estados, segundo o estudo. A cobertura caiu de 73,3% em 2022 para 69,57% em 2023.
Mesmo sem a consolidação de dados para todo o ano de 2023, o resultado indica uma reversão da queda dos índices vacinais no Brasil, algo que que já vinha ocorrendo há sete anos. Conforme a pesquisa, o progresso pode ser atribuído ao planejamento multiestratégico do Ministério da Saúde, com a criação do Movimento Nacional pela Vacinação, a implementação do microplanejamento, o repasse de mais de R$ 151 milhões para iniciativas regionais em Estados e municípios e o lançamento do programa Saúde com Ciência.
Influenza preocupa em geral
De acordo com o estudo, é necessário redobrar a atenção em relação à vacina contra influenza para a população em geral – que costumava ser uma campanha exemplar, com sucesso nas metas. Há um cenário de queda na adesão a esse imunizante, tanto no contexto nacional quanto no RS.
No âmbito industrial, a baixa adesão a essa vacina pode causar perdas, já que os colaboradores, quando infectados pelo vírus, ficam incapacitados de exercer suas atividades, frisam os pesquisadores. Desta maneira, os afastamentos geram milhares de reais de prejuízos diretos, além de outros como substituição do profissional, sobrecarga da equipe e queda na produção. Trata-se, portanto, de uma questão importante do ponto de vista econômico, conforme o gerente de Saúde do Sesi, acrescentando que a vacinação por parte das empresas geralmente é favorável, pois é um investimento que retorna para o negócio.
Sem alcançar a meta
Mesmo com a retomada das coberturas vacinais em 2023, nenhum dos imunizantes atingiu a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de 95%. Assim, é necessário estimular a continuação das campanhas de imunização para proteger uma parcela maior da população, promovendo também mais qualidade de vida e melhorando o sistema de saúde.
A queda da cobertura vacinal é uma questão de saúde pública. O problema é diretamente influenciado pela hesitação vacinal. Ele pode ser associado à diminuição da percepção de risco – ou seja, quando a pessoa não vê a doença, não se sensibiliza da importância da vacinação. Isso foi verificado na pandemia, quando a procura pela vacina contra covid foi impulsionada pelo fato de a doença assustar a população, conforme os pesquisadores. O cenário atual é uma consequência do sucesso das campanhas de vacinação ao longo das décadas, levando doenças preveníveis a serem eliminadas ou se tornarem cada vez mais raras.
Para melhorar ainda mais as coberturas, é necessário redobrar o trabalho de informar, na opinião de Germano, que avalia que há muita influência da desinformação na hesitação vacinal. Os pesquisadores chegaram a levantar quais motivos levam as pessoas a não se imunizar, deparando-se com vários: desconhecimento de quais imunizantes compõem o calendário; medo de que as vacinas causem reações prejudiciais; receio de que um excesso de vacinação possa sobrecarregar o sistema imunológico; entre outros.
— Tudo isso somado leva as pessoas a criar uma narrativa própria e de negação. E geralmente o que acontece: a pessoa deixa de buscar informações contrárias a esse convencimento e tenta buscar informações que confirmem sua crença, é um círculo vicioso. Por isso tem de fazer campanhas — afirma Germano.
O gerente de Saúde do Sesi destaca que o trabalho que o governo federal está realizando ajuda, mas precisa ser ampliado. Além disso, ressalta a necessidade de conscientização e de criação de uma cultura prevencionista em relação à saúde nas escolas – não apenas sobre vacinas, mas sobre a importância de se cuidar.