O constante barulho do vai e vem de pacientes e funcionários, da chegada de ambulâncias e do funcionamento de equipamentos médicos foi substituído por uma quietude melancólica. Isso porque, há mais de seis anos, as alas do antigo Hospital Parque Belém não testemunham a típica movimentação de uma instituição de saúde. O prédio no bairro Belém Velho, na zona sul de Porto Alegre, está de portas fechadas desde 24 de maio de 2017, quando os últimos colaboradores foram demitidos, sob a justificativa de derrocada financeira.
Uma alta vegetação cobre todo o pátio do terreno que abriga os seis pavilhões do hospital, antecipando o cenário de abandono que se percebe dentro do estabelecimento. Inaugurado em 1940, o prédio está sem energia elétrica e tem janelas externas quebradas. Na parte de dentro, algumas alas apresentam condições melhores, apesar da sujeira, dos móveis que não foram retirados do local e dos danos nas aberturas, causados por infiltrações e cupins. Outras áreas, entretanto, estão completamente destruídas.
Na manhã desta quarta-feira (21), a reportagem de GZH visitou a estrutura, que foi adquirida em leilão pela Associação Hospitalar Vila Nova (AHVN). A entidade tomou posse do imóvel após uma decisão judicial e agora pode ocupar o prédio e iniciar as reformas necessárias para a reabertura da instituição de saúde, que se chamará Sinos de Belém.
A antiga emergência, no primeiro andar do imóvel, é um dos espaços que não aparenta danos estruturais. Dentro desse setor, há leitos montados, com colchões, cobertas e travesseiros. Logo ao lado, está a ala onde antes funcionava a recepção, também sem avarias visíveis.
Já o setor de hemodiálise, ainda no primeiro andar, está inclusive interditado, em função do comprometimento da estrutura. Pelo vidro da porta, que conta com um aviso de interdição, é possível ver que o piso está cedendo e o gesso do teto caiu praticamente por inteiro. Outras alas do térreo, como a pediatria, estavam trancadas no momento da visita.
Além de cadeiras, balcões, armários e macas, a estrutura segue abrigando equipamentos hospitalares, como aparelhos de raio X e tomógrafos. Geladeiras, computadores, aparelhos de televisão e telefones estão entre os outros objetos deixados dentro do prédio. Um crachá e documentos datados de 2015 também foram deixadas para trás nas alas do antigo hospital.
No segundo andar, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aparenta estar em boas condições, assim como a farmácia e o setor de traumatologia. A área do laboratório, apesar de ter água sobre o piso em alguns ambientes, também não apresenta danos estruturais visíveis. Já as alas do Centro de Dependentes Químicos (CDQuim) estavam fechadas.
Um dos setores mais destruídos do antigo hospital é a unidade privativa, que fica no terceiro e último andar. Grandes pedaços de gesso do teto e de madeiras das portas e janelas quebradas estão espalhados pelo chão e dificultam a passagem por um dos corredores. Nas salas dessa ala, destroços se misturam a macas, móveis e televisores velhos. Os problemas são causados por infiltrações, que também deixam um forte cheiro no local.
O mesmo andar ainda comporta o bloco cirúrgico, onde há leitos montados, mas cobertos por uma grossa camada de sujeira. As salas desse setor contam com equipamentos aparentemente novos, como focos de luz, computadores e duas televisões grandes. No piso, entretanto, há poças e danos decorrentes da água.
Na capela, também no terceiro andar, não é possível visualizar danos estruturais. Um vitral está danificado, mas os demais estão íntegros, assim como os bancos. O espaço do anfiteatro estava fechado.
O diretor da AHVN, Dirceu Dal'Molin, esteve no local durante o cumprimento da ordem de imissão na posse, na terça-feira, acompanhado de um arquiteto e de um engenheiro. Em entrevista à reportagem de GZH, ele afirmou que foi realizado um inventário para conferir se todos os aparelhos citados no processo de leilão estavam nas dependências do prédio.
— Na quinta-feira (22), já teremos ideia do que precisa de obras, mas o otimismo é grande. O plano continua sendo abrir a parte de internação psiquiátrica e alguma coisa clínica em 30 dias (após a posse da estrutura). Depois, reformar todo o hospital para reabrir a pleno, o que deve levar de seis a oito meses — projetou Dal'Molin.



