Por Bruna Rodrigues, deputada estadual (PCdoB)
A 56ª legislatura da Assembleia Legislativa gaúcha enfrenta muitas novidades — o que pode gerar um estranhamento para uma parcela da sociedade que foi ensinada com um "padrão" da política. Que padrão seria esse? Homens brancos, de meia idade e com algum histórico familiar no meio institucional. Ou de mulheres brancas que, em sua maioria, também ingressam na política pelo vínculo familiar. Mas a política contemporânea também traz novas representatividades: mulheres negras. Em 189 anos de legislativo estadual vivemos só agora a presença de parlamentares negras legitimamente eleitas.
Para que mais mulheres negras possam ocupar os espaços políticos, precisamos que a nossa presença seja respeitada e que nossas vidas sejam asseguradas
Neste mês de novembro, mês da Consciência Negra, vivemos pela primeira vez na história um feriado nacional. Essa é uma conquista da luta histórica do movimento negro para falarmos dos resquícios do racismo estrutural na sociedade. Para nós, e para tantos parceiros da caminhada antirracista, é um dia de reflexão e de luta.
Não são só de boas novas, infelizmente, que a política vem sendo alimentada. O discurso de ódio permanece gerando preocupação. Há um mês, recebi xingamentos racistas e ameaças de morte contra a minha vida e a de minha filha. Não é a primeira e provavelmente não será a última que sofrerei. Mas ela ainda ecoa em nossa rotina, já que permaneço com a proteção de policiais legislativos. Outras parlamentares negras também receberam essas ameaças em todo Brasil. E o ódio costuma se propagar.
No mês dedicado a tantas ações que enaltecem o povo negro, enfrentar a violência política se torna, também, um desafio antirracista. Nossa chegada nos espaços de poder é um acúmulo da democracia, que precisa ser defendida. É necessário enfrentar o que ameaça a nossa chegada e permanência nesses espaços. Para que mais mulheres negras possam ocupar os espaços políticos, precisamos que a nossa presença seja respeitada e que nossas vidas sejam asseguradas. Porque, no limite, quem perde é nosso povo!