Professores e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) desenvolveram um aplicativo inédito que identifica a presença de mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue e de outras doenças, em ambientes fechados. O protótipo faz a análise com base na frequência sonora emitida pelo bater das asas dos insetos. Como está em período de testes, ainda não há previsão de quando a novidade será disponibilizada para a população.
Batizada de Aedes Detector, a iniciativa faz parte do acervo de projetos da rede Ciars – Centro de Inteligência Artificial do Rio Grande do Sul –, cujo foco é o desenvolvimento de inovações na área da saúde. Embora a rede tenha sido oficialmente lançada pelo governo do Rio Grande do Sul, o professor do Instituto de Informática da UFRGS Weverton Cordeiro conta que a ideia surgiu em 2016.
— Estávamos organizando um congresso internacional que iria ocorrer em Salvador. Contudo, em função da crise de zika que a região nordeste enfrentou na época, tivemos que transferir o evento para Florianópolis, em Santa Catarina. Mesmo assim, muitos professores europeus e norte-americanos ainda estavam preocupados com a possibilidade de contrair a doença enquanto estivessem no Brasil. Foi então que nos perguntamos: e se tivéssemos um aplicativo de celular que pudesse nos dizer se há mosquitos Aedes aegypti na sala? — conta.
Os pesquisadores gaúchos, então, encontraram gravações do zumbido de Aedes aegypti, produzidos e disponibilizados publicamente pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. A partir disso, os integrantes do CIARS começaram a fazer as primeiras redes neurais que processavam esses áudios e tentavam identificar padrões relacionados ao zunido do mosquito transmissor da dengue.
De acordo com a professora Onilda Santos da Silva, do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da UFRGS, a frequência emitida pelo bater de asas dos mosquitos Aedes aegypti varia entre 300 e 1200 hertz.
— Esse número pode variar dependendo se o mosquito for macho ou fêmea, se está em período de acasalamento ou, ainda, caso a fêmea já tenha sido fecundada — explica.
Ao encontrar esse padrão, o aplicativo mostra a probabilidade de o ruído ser, de fato, proveniente de um Aedes aegypti. De acordo com os professores, qualquer probabilidade acima de 90% já identifica que é o mosquito transmissor da dengue. Abaixo de 50%, não é.
Tecnologia ainda não chegou à população
Apesar dos grandes avanços realizados desde 2016, o Aedes Detector ainda tem limitações importantes. Um dos principais fatores a ser trabalhado é a filtragem dos ruídos captados pelo celular e a distância máxima do ruído pode ser detectado.
— No momento, o microfone do celular captura o áudio do mosquito que está até 50 cm de distância — salienta Weverton, que completa:
— Uma aluna da UFRGS está pesquisando quais estímulos visuais e sonoros podem ser utilizados no celular para tentar atrair o mosquito para perto do aparelho.
Até o momento, os pesquisadores ressaltam que o aplicativo é inédito, visto que as iniciativas existentes são focadas no mapeamento de casos de dengue com base nos sintomas ou localização de possíveis larvas de Aedes aegypti.
Utilidade Pública
Além dos benefícios proporcionados à população, o Aedes Detector também pode ser um grande aliado da saúde. A professora Mariana Mendoza, especialista em aprendizado de máquina do Instituto de Informática da UFRGS, lembra que as técnicas utilizadas atualmente pelo poder público de Porto Alegre, por exemplo, se baseiam em colocar agentes de saúde na rua para identificar focos de mosquitos, o que leva tempo e gera custos.
— Outro problema é a abrangência, que fica limitada a área monitorada. Por isso, queremos utilizar um aparelho celular para fazer essa vigilância de forma automatizada - conclui.
Já para os moradores que quiserem conferir a presença dos mosquitos em suas residências, o aplicativo pode funcionar como um sinal de alerta para possíveis criadouros, quando for disponibilizado.
— Os estudos dizem que, em condições normais, um mosquito Aedes aegypti não voa para mais do que 300 metros do foco onde ele nasceu durante todo o seu ciclo de vida — afirma a professora Onilda.
— Isso já é um bom sinal de alerta mostrando que pode ter um foco próximo de onde a pessoa está — finaliza.
Além do aplicativo, os pesquisadores do Ciars também trabalham no desenvolvimento uma plataforma digital que possa prever a proliferação de mosquitos transmissores da dengue em diferentes regiões de Porto Alegre.
Produção: Luiza Schirmer