É falso que Bill Gates tenha a intenção de inserir vacinas com RNA mensageiro (mRNA) no refrigerante Coca-Cola para controlar o DNA das pessoas. Os imunizantes com essa tecnologia sequer têm essa capacidade e não há registro de alteração na fórmula da bebida.
Conteúdo investigado
Posts afirmam que o empresário norte-americano Bill Gates comprou grande parte das ações da Heineken e da Coca-Cola, que a fórmula do refrigerante foi alterada e que a intenção é inserir nesta bebida vacinas com mRNA.
Onde foi publicado
Conclusão do Comprova
É falso que o empresário norte-americano Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola para inserir vacinas mRNA na bebida que leva o nome da empresa no intuito de controlar o DNA das pessoas.
Recentemente, foi noticiado que ele adquiriu ações da Heineken no mesmo dia em que a empresa Fomento Economico Mexicano SAB – conhecida como Coca-Cola Femsa e que negocia na Bolsa de Valores com a sigla KOF – vendeu participação na companhia. A Femsa é responsável por engarrafar o refrigerante e Gates também detém participação nela, mas não é algo recente: as ações foram compradas em 2007.
Além disso, ao Comprova, tanto a Femsa quanto a Coca-Cola garantem não ter havido mudanças na fórmula da bebida. A empresa mexicana é apenas uma das engarrafadoras do refrigerante. Somente no Brasil, o sistema Coca-Cola possui outras seis parceiras engarrafadoras que, juntas, somam 37 fábricas.
Para reforçar a teoria falsa de que Bill Gates estaria querendo interferir no DNA de quem consome a bebida, o autor escreve que “eles nem escondem mais: a propaganda da Femsa (empresa distribuidora) é justamente a seguinte: Um só DNA!”.
Sobre isso, a Femsa acrescentou que utiliza o termo “DNA KOF” na comunicação interna da empresa como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem os colaboradores.
“Com o propósito de empoderar nossas equipes para liderarem o crescimento e a transformação em um ambiente de constante mudança na indústria, definimos o DNA KOF como uma série de crenças e comportamentos fundamentais que regulam nossas ações diárias”, detalha a companhia em seu site.
Uma explicação sobre o assunto também foi publicada na página da empresa no Facebook em 2021. Por fim, é amplamente comprovado, como já mostrou o Comprova, algumas vezes, que as vacinas mRNA não são capazes de alterar o DNA humano.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação
O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, a postagem foi curtida 2 mil vezes até o dia 14 de abril e depois foi deletada. No Instagram, os conteúdos somavam mais de 4 mil curtidas até 18 de abril. Até a mesma data, a postagem registrou 59 mil interações no TikTok, entre curtidas, compartilhamentos e comentários.
Como verificamos
Pelo Google, buscamos notícias publicadas pela imprensa profissional sobre a possível compra de ações das companhias Heineken e Coca-Cola pelo empresário Bill Gates. Em seguida, entramos em contato com as assessorias de imprensa da Coca-Cola, da Femsa e da Fundação Bill e Melinda Gates. A Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros (Autoriteit financiële Markten – AFM), reguladora do mercado financeiro da Holanda, também foi procurada. Por fim, revisitamos checagens do Comprova sobre a tecnologia mRNA, utilizada em vacinas contra a covid-19, e procuramos os autores das postagens.
Bill Gates comprou ações da Heineken e já possuía da Femsa há anos
Não há notícia de que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola Company, empresa dona do refrigerante Coca-Cola.
Na verdade, foi noticiado recentemente que o empresário adquiriu, em 17 de fevereiro de 2023, uma participação minoritária na Heineken Holding NV, acionista controlador da segunda maior cervejaria do mundo, por cerca de US$ 902 milhões.
Segundo a Bloomberg, o fundador e filantropo da Microsoft comprou 3,8% da Heineken Holding, de acordo com um documento da Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros, totalizando 6,65 milhões de ações, em sua capacidade individual, e outros 4,18 milhões de ações por meio da Fundação Bill & Melinda Gates. A AFM foi procurada pelo Comprova para confirmar a informação, mas não retornou.
O nome do refrigerante aparece nessa história porque Gates adquiriu a participação no mesmo dia em que a Femsa, engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, lançou uma venda de € 3,7 bilhões em ações vinculadas a parte de suas participações na Heineken. Pouco antes, a Femsa havia anunciado planos de se desfazer de sua participação na cervejaria por motivos estratégicos.
O Comprova também solicitou à Femsa, à Fundação Bill e Melinda Gates e à Coca-Cola informações sobre possíveis venda e compra de ações e se Gates detém ações na empresa que fabrica o refrigerante, mas apenas a Coca-Cola respondeu informando ser uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos e que não comenta movimentações de acionistas.
Não há registro de alteração na fórmula da Coca-Cola
Os responsáveis pelas postagens não apresentam quaisquer provas de que a Coca-Cola tenha mudado a composição da bebida tradicional que leva seu nome. Ao Comprova, a empresa garantiu que não houve qualquer alteração recente na fórmula do produto. Uma nota sobre o assunto foi publicada no site da companhia, acrescentando que todos os ingredientes utilizados nos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens.
O último registro de mudança de fórmula da bebida ocorreu em de 23 de abril de 1985. À época, a alteração não foi bem aceita pelos consumidores e a fórmula original foi retomada poucos meses depois, em 11 de julho de 1985.
A assessoria de imprensa da Coca-Cola Femsa declarou que as alegações feitas nas redes sociais são inverídicas e explicou que utiliza o termo “DNA KOF” como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem seus colaboradores. A expressão foi utilizada nas peças desinformativas como “prova” de que se pretende alterar as informações genéticas das pessoas por meio da bebida.
Vacinas não alteram o DNA das pessoas
Não há sentido em afirmar que inserir vacinas com mRNA em refrigerantes possibilite o controle do DNA, isso porque nem mesmo os imunizantes aplicados nas pessoas para o combate da doença são capazes disso.
A falsa afirmação de que o mRNA pode alterar o DNA passou a ser amplamente difundida após a aprovação de duas vacinas contra a covid-19, da Pfizer e da Moderna, que usam a tecnologia. A alegação foi desmentida várias vezes ao longo da pandemia de coronavírus. O Comprova já explicou que as vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e que não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos.
O mRNA é uma molécula existente no corpo humano e que leva informações até o núcleo das células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos.
Sobre alegações desta natureza, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se posicionou informando que as vacinas que empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2 não são produtos de terapia gênica porque não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.
O que diz o responsável pela publicação
No Twitter, o conteúdo foi postado por conta que não possui qualquer identificação de quem seja o responsável e não permite o envio de mensagens. Posteriormente, o tuíte foi apagado. O vídeo no Instagram foi gravado por Cristiane Luz. Ao Comprova, ela disse ter se baseado em sites de jornalismo independentes e páginas do Twitter, além dos próprios conhecimentos espirituais sobre o tema, encerrando o contato em seguida.
O que podemos aprender com esta verificação
Os posts têm ar de teoria conspiratória ao sugerirem que um empresário mundialmente conhecido estaria planejando controlar a humanidade. Também envolvem os nomes de duas gigantes do ramo de bebidas. Caso essas empresas, ou mesmo o bilionário, estivessem agindo de má-fé contra os consumidores, o fato certamente teria ampla divulgação. Nesse contexto, é importante destacar que a imprensa profissional é uma fonte de informação confiável, portanto, bastaria uma busca pelo assunto para encontrar notícias nesse sentido.
Sobre o funcionamento da tecnologia em vacinas, há farto conteúdo não só na imprensa, como também nos sites das agências que regulamentam esses produtos e em fontes oficiais dos governos, que devem ser consultadas. É importante também que o leitor fique atento a conteúdos muito mirabolantes, como este, e se perguntar se faz algum sentido o que é afirmado na publicação. Bastaria uma simples pergunta, como “É possível colocar DNA em um refrigerante?”, para desconfiarmos do conteúdo.
Por que investigamos
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
Conteúdos semelhantes foram verificados por Fato ou Fake, Uol Confere e por Boatos.Org. Além disso, o Comprova já demonstrou anteriormente ser falsa uma publicação sugerindo que Bill Gates instalaria nanopartículas nas doses da vacina e que imunizantes não injetam “DNA alienígena” nos humanos.