A emergência do Hospital Ernesto Dornelles (HED), em Porto Alegre, está operando em sua capacidade máxima, em função de um aumento progressivo da procura por atendimento médico registrado nas duas últimas semanas. De acordo com a instituição de saúde privada, que atende somente particular e convênios, pacientes usuários do IPE Saúde representam cerca de 70% dessa demanda.
Em nota, o hospital afirmou que, diante da situação, todos que procuram a emergência são informados sobre o tempo de espera e passam por uma triagem para atendimento. Além disso, destacou que está fazendo o possível para não deixar nenhum paciente desassistido e que “segue dando prioridade aos atendimentos com maior risco à vida", sendo os demais casos atendidos “dentro da capacidade permitida”.
O motivo para o aumento da procura pela emergência do HED por parte de usuários do IPE Saúde está relacionado à dificuldade que este público tem enfrentado para conseguir atendimento de urgência em outros hospitais, aponta o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcos Rovinski. A afirmação é corroborada por um trecho da nota do Ernesto Dornelles: “Grande parte da alta demanda se dá pelos pacientes IPERGS (cerca de 70%) que não estão conseguindo atendimento em outras emergências”. Questionado sobre a situação, o IPE Saúde respondeu, também por meio de nota, que as emergências credenciadas ao convênio “continuam operando normalmente em relação ao atendimento dos usuários” (leia mais no final da reportagem).
Rovinski comenta que todas as emergências tiveram um aumento muito expressivo na procura por diversas razões, como a retração dos atendimentos durante os períodos mais críticos da pandemia e a falta de uma estrutura adequada de atendimento nas unidades básicas de saúde. No caso do HED, além desses motivos, há o “agravamento” de ser praticamente a única emergência de portas 100% abertas para pacientes do IPE Saúde:
— Lá não tem restrição de atendimentos. Existe hoje uma restrição de atendimento, em função da situação de crise do IPE, em grande parte das emergências, que fecham as portas ou diminuem o número de atendimentos. O Hospital Ernesto Dornelles não faz isso, porque é um hospital que é de uma associação de funcionários públicos, que tem a prática de ser procurado por funcionários públicos.
Consultada pela reportagem de GZH, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre confirmou que impõe restrições a esses pacientes. Em nota, o hospital informou que desde maio de 2022 está atendendo usuários do convênio IPE Saúde “com prejuízos financeiros para a instituição na ordem de R$ 10 milhões acumulados, decorrentes de imposições unilaterais envolvendo a tabela de preços do Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul”.
O texto explica que, nesse período, “para manter minimamente a assistência aos usuários, a Santa Casa foi compelida a restringir a assistência, especialmente de consultas, atendimentos de urgência e emergência e cirurgias eletivas”. Mesmo assim, a instituição conta atualmente com 190 pacientes do IPE internados e possui 613 cirurgias eletivas agendadas, além de 6.058 consultas e 3.568 exames marcados.
Já o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), informou que só atende internações e procedimentos pelo IPE Saúde, e que não há restrição. A instituição também esclareceu que a emergência “segue o padrão do hospital”, sem diferença para pacientes com ou sem convênio. O Hospital Moinhos de Vento, por sua vez, afirmou que não atende o convênio IPE Saúde em seu Serviço de Emergência e Internação. No caso de consultas, atende apenas em alguns serviços específicos.
Descredenciamento de médicos
Outro ponto citado pelo presidente do Simers é uma “crise” entre os médicos que atendem pelo convênio em consultórios, o que também acaba impactando na emergência do HED. Conforme Rovinski, muitos profissionais estão se descredenciando ou restringindo atendimentos, em função da remuneração — não há reajuste de honorários desde 2011, afirma.
— Para solucionar o problema, teria que aumentar o aporte de recursos aos hospitais, que estão sofrendo com a falta de reajuste do IPE Saúde, e também a remuneração dos médicos, que há 12 anos recebem os mesmos honorários por atendimento médico hospitalar — ressalta.
Questionado sobre a situação, o IPE Saúde respondeu, por meio de nota, que as emergências credenciadas ao convênio “continuam operando normalmente em relação ao atendimento dos usuários” e que, no caso de problemas, a orientação é que os pacientes procurem a ouvidoria do Instituto.
Já em relação ao descredenciamento de profissionais, o IPE afirmou que “é algo que ocorre ocasionalmente”, mas que, atualmente, há “um volume grande de solicitações de médicos que desejam credenciar-se e atender pelo IPE Saúde na modalidade Pessoa Jurídica”. O texto também salienta que, em todos os casos, o convênio “vem trabalhando em medidas visando à valorização do profissional médico”.
Atualmente, conforme o IPE Saúde, há um total de 6.466 médicos, 244 hospitais, 660 laboratórios e 54 prontos-socorros credenciados ao convênio em todo o Rio Grande do Sul. Os usuários podem localizar médicos, hospitais e demais tipos de prestadores credenciados no guia médico hospitalar, por meio deste site.