Não existem cigarros eletrônicos capazes de trazer algum benefício para a saúde, afirmam especialistas preocupados com uma propaganda que circulou na internet, nos últimos dias, divulgando um novo modelo com supostas vitaminas que prometem dar mais energia. Desde 2009 esses aparelhos para fumar são proibidos no Brasil.
O anúncio mostrava mulheres se exercitando em uma academia e inalando o "health vape" (vape saudável, em tradução livre), ou "vape com vitaminas". A conta que divulgava a informação no Instagram foi deletada.
— É um absurdo considerar que um cigarro eletrônico possa conter vitaminas. Isso é um movimento das indústrias de cigarro para tentarem se transformar em empresas que fazem produtos para a saúde, e os jovens, principais usuários desses produtos, acreditam — critica o pneumologista Luiz Carlos Corrêa da Silva, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
De acordo com o médico, não há estudos comprovando que as vitaminas possam ter algum efeito se forem inaladas, em vez de ingeridas via oral pelos alimentos ou mesmo suplementos.
— As vitaminas que o nosso organismo precisa para se manter saudável são vitaminas absorvidas pela via digestiva. Não existe isso de colocar uma quantidade de vitamina pela via inalatória, que será absorvida pelos alvéolos pulmonares. Isso é uma fantasia, uma ilusão. Nem sabemos os riscos que isso pode ter. Pode até mesmo intoxicar os alveólos — alerta.
No dia 1° de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma nota reforçando que é proibida a comercialização, a importação e a propaganda dos cigarros eletrônicos com alegações de saúde. Também esclareceu que suplementos vitamínicos são produtos de ingestão oral, e que os tais aparelhos com vitaminas para fumar não têm qualquer tipo de comprovação ou regularização no país.
Coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), o pneumologista Paulo Corrêa alerta para a gravidade de estimular a inalação de qualquer substância medicamentosa sem que tenha sido feito uma série de estudos analisando seus efeitos.
— Quando se administra algo pela via inalatória, temos que ter segurança de que não há problema. A insulina para pacientes diabéticos, por exemplo, foi testada no formato inalatório. Foram feitos diversos testes, seguindo todas as normas, e chegou-se à conclusão que a insulina inalatória dava fibrose pulmonar. Isso mostra que um remédio não pode ser administrado de qualquer jeito ou em qualquer formato — diz Corrêa, que chegou a cobrar de autoridades como a Anvisa para que o anúncio do cigarro eletrônico com vitaminas fosse retirado da internet.
A ilusão do cigarro eletrônico
Desde que foram criados, os cigarros eletrônicos são vendidos como produtos menos nocivos do que os convencionais, feitos com tabaco. Mas isso é uma mentira para estimular que as pessoas sigam consumindo nicota, substância altamente viciante, além de outros componentes maléficos, garantem os pneumologistas.
— Como são produtos produzidos de forma não autorizada, os componentes dos cigarros eletrônicos não ficam públicos. Mas a imensa maioria deles têm nicotina, e isso é uma forma de tornar o usuário um dependente. Tudo o que a indústria de cigarros deseja é ter eternos consumidores — observa o médico Luiz Carlos Corrêa da Silva.
Os prejuízos do cigarro eletrônico são os mesmos do que os do cigarro com tabaco, mas há danos específicos. Como são oferecidos em dispositivos feitos de plástico e metal, acabam liberando, ao esquentar, substâncias tóxicas que não fazem parte do cigarro convencional, como cobre, níquel, latão e chumbo, entre outros.
Além do mais, a medicina já identificou uma doença relacionada ao cigarro eletrônico, a evali, que causa lesão pulmonar.
— Quando a evali não mata, ela aleija. Os que sobrevivem, ficam com graves sequelas —alerta Paulo Corrêa.
Para o representante da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o cigarro eletrônico ainda tem o desserviço de atrair não-fumantes para o mal hábito do tabagismo.
— Com esse discurso falso de serem saudáveis, os cigarros eletrônicos podem começar a ser usados até mesmo pelos não-fumantes de cigarros tradicionais. Mas têm teores de nicotina extremamente elevados. Um produto de uma marca específica tem o conteúdo de nicotina equivalente ao de três maços de cigarros.
Veja a nota da Anvisa sobre os cigarros eletrônicos com vitaminas:
A Anvisa esclarece que não existe autorização no Brasil para quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), sendo proibida a comercialização, a importação e a propaganda desses produtos, independentemente de sua composição e finalidade.
Em relação aos suplementos alimentares, a regra não é diferente. A apresentação de vitaminas e outros alimentos oferecidos na forma de dispositivos eletrônicos para fumar é proibida, considerando que o próprio dispositivo não é permitido e que suplementos alimentares são produtos de ingestão oral. Recente veiculação em mídias sociais apresenta um produto que supostamente teria esta função, mas sem qualquer tipo de comprovação ou regularização no país.