Apesar da doença de Bruce Willis ser um dos principais tipos de demência, ela não é comum. É por isso que o anúncio do diagnóstico de demência frontotemporal (DFT) impressionou fãs do ator de 67 anos, que há quase um ano estava afastado do cinema devido a uma afazia. A DFT ou demência da doença de Pick, como costumava ser conhecida, tem como uma das principais características o acometimento precoce, sendo uma das formas de demência mais comum em pessoas com menos de 65 anos.
Segundo o neurologista do Hospital Mãe de Deus Henrique Mohr, o transtorno pode aparecer em qualquer idade, sendo mais comum o surgimento quando o paciente está na faixa-etária dos 58 anos. Essa característica é bem diferente da idade padrão do Alzheimer, que costuma aparecer em idades mais avançadas.
A afazia, doença que fez Willis se aposentar em março do ano passado, é uma das formas do aparecimento da DFT. A condição afeta as habilidades de comunicação do paciente, impossibilitando a compreensão e execução da linguagem, escrita ou falada. Os outros sintomas da DFT, segundo o neurologista, são comportamentais.
— A DFT afeta o comportamento. O paciente acaba tendo perda de inibição social, então a pessoa pode ficar hiperssexualizada, comer de maneira compulsiva, usar linguagem verbal inadequada, com muitos palavrões, por exemplo. Pode também ficar muito violento ou apático. Em geral, o paciente fica mais impulsivo — descreve. Além dos sintomas comunicacionais e comportamentais, pacientes também podem apresentar sintomas motores, como tremores, fraqueza ou rigidez dos músculos.
A demência frontotemporal é considerada uma síndrome causada por alterações genéticas que afetam o lobo frontal e o lobo temporal do cérebro, responsáveis pela emoção, memória e linguagem. A ciência ainda não conhece a causa exata do transtorno, mas Mohr explica que as alterações não são necessariamente hereditárias, mas que quem tem familiares diagnosticados podem ter mais chances de ter o transtorno.
Existem vários tipos de demência, mas os quatro mais comum são Alzheimer, responsável por mais da metade dos casos, demência vascular, demência frontotemporal e demência por corpos de Lewy. Mohr afirma que a DFT é responsável por 10% dos diagnósticos de demência.
Prevenção e tratamento
Sem saber a origem exata do transtorno, é difícil definir as melhores formas de prevenção. As recomendações médicas não fogem muito das maneiras de prevenir outras doenças. Mohr enfatiza que algumas ações podem reduzir as chances de desenvolver demência, mas não as zerar.
— Fazer atividade física, especialmente com componente aeróbico, e exercitar o cérebro, com estudos, por exemplo, é essencial. Fazer a prevenção e tratamento de hipertensão, diabetes e alterações no colesterol também é importante, assim como tratamento de doenças psiquiatras concomitantes. Uma depressão pode ser um fator de risco — relata.
Não existe tratamento que interrompa o avançar da doença, garante o neurologista. Comumente interdisciplinar, com fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos, o apoio consiste em controlar os sintomas para que o paciente possa ter qualidade de vida.
— O diagnóstico da demência é feito por exames de imagens e, principalmente, testes neuropsicológicos. Então, quando os sintomas aparecem, significa que o paciente tem algum grau de perda de funcionalidade. Os pacientes com DFT normalmente precisam ser assessorados. No início da doença, é mais brando. Com o avançar, eles podem precisar de ajuda para realizar desde as tarefas mais simples às mais complexas — defende.
O especialista conta que, como os sintomas deixam os pacientes impulsivos, pode ser perigoso que eles dirijam ou, até mesmo, tenham controle da própria conta bancária, por exemplo, uma vez que podem se envolver em acidentes ou fazer gastos excessivos. Por isso, é importante que a família se planeje judicialmente e internamente para atender às necessidades desse paciente.
Produção: Yasmim Girardi